Cantando jazz, Beatles e esbanjando categoria, Sandy mostra que está pronta para ser “a cantora”.
Os poucos (cerca de 400, somando as duas noites) sortudos que viram a
fabulosa estréia solo de Sandy na perfeita casa de blues e jazz Bourbon
Street, em SP, constataram que a irmã de Júnior está pronta para uma
carreira individual, mesmo que a dupla não encerre suas atividades.
Sobre um eventual fim de Sandy e Júnior, entre um clássico e outro do
jazz que cantou na segunda noite (dia 5), quando o Pop Mix acompanhou
tudo, ela disse: “É meio estranho estar aqui sozinha no meio do palco,
tem sempre um Júnior aqui do meu lado. E antes que digam algo, quero
dizer que Sandy e Júnior continuam juntos”, mandou a cantora, que
confessava estar menos nervosa que na noite anterior, e que aquele show
era mesmo um marco em sua carreira. “Vocês que estão aqui estão fazendo
parte de um momento muito especial para mim”, frisou.
Se a idéia era ver Sandy cantando mitos do calibre de Cole Porter, Tom
Jobim (de quem ela fez quatro números) e Ella Fitzgerald, o objetivo foi
alcançado, até porque ninguém foi ao Bourbon esperando ver uma Billie
Holiday paulista ou algo parecido. E por falar em lendas do gênero, foi
cantando uma música da seminal e já citada Ella Fitzgerald que Sandy
arrancou o maior frenesi da atenta platéia que jogava muito a favor
dela, diga-se de passagem, e a sensacional versão de Cry me a river
mostrou que Sandy tem tudo para ser, em pouco tempo, uma das maiores
cantoras do Brasil.
Outro momento impagável foi quando Sandy, com sua voz suave, na medida
certa, brindou a todos cantando Blackbird, dos Beatles. Foi como se
Karen Carpenter estivesse longe de suas paranóias, cantando feliz da
vida uma versão jazzística de um clássico de Paul McCartney.
Sandy só perdeu para o banquinho
Em alguns momentos cantando em pé, em outros sentada, Sandy, com um
dress code que fazia o clássico dialogar com o “desencanado”, esbanjava
sensualidade, simpatia e bom humor, e ao ter dificuldades para se sentar
numa das vezes, brincou: “Nossa, dez a zero pro banquinho!”.
Outra atitude bacana da cantora, que talvez ao lado de Gisele Bündchen
seja de fato uma das poucas celebrities brasileiras, foi a forma honesta
e espontânea como valorizava a performance e a competência de seus
magistrais músicos de suporte (ela babava com os solos). A banda era
mesmo uma atração à parte, e ainda para a visível alegria de Sandy o
trombonista Bocato, que tocou até com a imortal Elis Regina, subiu ao
palco para acompanhá-la em três músicas, o que rendeu da artista o justo
comentário: “Hoje estou muito chique”. E estava mesmo!
Sandy esbanjou talento, elegância e fez o básico dentro de uma proposta
que incluía (deve-se dizer) os cuidados de uma “estréia” corajosa de uma
cantora oriundamente teen cantando jazz! De um modo geral, e o básico
de Sandy foi muito chique, sim, depois deste show dá para arriscar que
ela já é quase “a cantora”, e o futuro da dupla deve, de fato, estar
causando um grande dilema, mesmo que jamais admitido em uma jovem que já
sente sua carreira apontar para outros caminhos e que tem
simultaneamente seu parceiro e irmão também, de uma certa forma, pirando
com seu elogiado Soul funk. E como ninguém tem bola de cristal, hoje é
arriscado dizer o que eles estarão fazendo amanhã, mas é bem provável
que os dois sigam não já, mas em breve, rumos opostos e com boas chances
de no futuro fazerem a volta dos sonhos de seus provavelmente
inconformados fãs. Aí sim, lá na frente, mais maduros, quem sabe criarem
o pop ideal, que ainda não encontram até hoje!