QUASE CAIPIRA, QUASE ROQUEIRA, A IRMÃ DE JUNIOR ENSAIA SE SOLTAR MAIS NA NOVA FASE - MAS NÃO CONSEGUE. AINDA...
Sandy
não é dada a radicalismos. Por isso, sua empreitada solo não poderia
ser assim tão diversa da carreira mantida por mais de dez anos com o
irmão, Junior. E não é. Manuscrito,
o primeiro disco que ela pode chamar de seu, é autoral, mas traz muito
do romantismo e um pouco do estilo um tanto caipira de cantar da dupla,
fácil de verificar no jeito de escandir sílabas em versos como “E
rece-e-e-ba o que seja seu”, de Beija Eu.
Parte do repertório da primeira turnê, que mistura o disco próprio com
covers e hits do passado, e que chegou nesta quinta a São Paulo depois
de estrear em Curitiba na sexta passada, o remake de Marisa Monte vem
acompanhado de outra mudança no perfil Sandy. Acordes dissonantes de
teclado, na pegada Strawberry Fields Forever,
dos Beatles, abrem e pontuam a canção. E indicam que Sandy quer rock –
ou não. Em se tratando da sempre coesa filha de Xororó, é mesmo difícil
falar em posições firmes. Mas pode-se dizer que Sandy, apesar da
coerência que lhe é natural e até peculiar, apresenta personas distintas
nessa turnê que é tão sua. Confira abaixo as cinco Sandys do palco
paulistano.
Politicamente correta
Essa
é a mais óbvia e deu as caras logo no início do show, quando a cantora
pediu aos fãs mais entusiasmados – e não eram poucos, com o repertório
do CD Manuscrito
na ponta da língua – que se sentassem em seus lugares. “Queria fazer um
pedido para quem estiver de pé se sentar”, pediu a cantora, sem perder o
jeito meigo, entre as primeiras músicas do show. Por culpa dos afoitos
que queriam ver o show de pé, como um garoto que chegou a viajar para
Curitiba para acompanhar o início da turnê, outros de mais idade como a
sua avó Mariazinha, na primeira fileira da zona do gargarejo, ficavam
apertados e sem visão. Ainda mais no minúsculo Citibank Hall, o antigo
Palace - onde ela se apresenta novamente nesta sexta-feira (26).
Autoajuda
Essa está no contexto. Mas não é necessariamente ligada à outra e foi vista com destaque somente uma vez, em que a cantora dedicou palavras ao “amado irmão, Junior”. Tomando como gancho os gritos frenéticos da plateia, Sandy filosofou. “Esse carinho me faz olhar para trás. É uma história que me dá muito orgulho, porque é o passado que nos constrói. Eu não seria quem eu sou se não tivesse passado por isso”, refletiu, antes de cantar Quando Você Passa e Estranho Jeito de Amar, que fizeram o cativo público urrar ainda mais.
Caipira
A influência dos tempos de Maria Chiquinha ainda tem ecos na voz de Sandy, embora se possa notar algum distanciamento daquele período. As palavras onduladas em silabações no estilo do pai Xororó, como em "hoje eu quero sai-i-ir só”, da música de Lenine, estão lá. Por outro lado, disputam e muitas vezes perdem lugar para sílabas esticadas, no jeitão MPB. Mas apesar disso e de algum sibilar nas palavras, Sandy é, afinal, afinada.
Saidinha
Hoje Eu Quero Sair Só foi pano de fundo de um dos momentos mais radicais da apresentação. Pouco depois de anunciar que iria fazer versões de canções de grande significado para ela, Sandy iniciou a faixa de Lenine – seria uma indireta para o irmão ou para o marido, Lucas Lima? – e se aproximou do bonito guitarrista André Caccia Bavva para um rápido diálogo musical, o único do show. Nada demais, é claro, já que estamos falando da discreta Sandy. Seu outro momento radical foi quando sacou o casaquinho de renda preta que fazia par com a saia do mesmo tipo – guarnecida por um short preto que impedia qualquer roupa íntima de se apresentar. Ela tirou o casaquinho e girou rápido sobre o ombro. Mas tão rápido que não deu o tempo necessário da piada.
Rock'n'roll
Com o microfone numa mão e a outra sobre o tripé, joelhos flexionados e um jeito de cantora pop, porém contida, Sandy mostrou o seu lado rock’n’roll. Cantou versões de músicas pesadas como Por Enquanto, da Legião Urbana, e Wonderwall, do Oasis, precedida pelo discurso de “eu amo o pop britânico”. “A sonoridade britânica é uma coisa que eu curto bastante”, disse a descolada Sandy.
Bem, Sandy não se permite variar muito sobre o seu próprio tema - o boa-moça way of life -, mas é certo que a irmã de Junior vive uma transição. Outras conti-iiii-das Sandys devem vir por aí.
Fonte: Veja.com