Sandy traz a Porto Alegre o show do primeiro disco solo da carreira
A
imagem é romântica: o artista acompanhado de um bloco de anotações para
quando a inspiração surgir. Foi com esse tom clássico mais as folhas de
um caderno inseparável há oito anos que Sandy concluiu o único trabalho
totalmente autoral nesses 20 anos de carreira. O disco Manuscrito
é o primeiro após o fim da dupla com o irmão Junior. Com 27 anos, a
cantora entra em uma nova fase: mais intimista, sem o frenesi de
multidões, com uma nova linguagem, ideias e sentimentos a expressar. Ou
seja, mais adulta.
Nesta
quinta-feira, a partir das 21h, Sandy apresenta no Teatro do Sesi
(Assis Brasil, 8.787) o fruto de um trabalho gestado durante três anos.
Ao encerrar em 2007 a dupla com o irmão, ela percorreu o Brasil
interpretando canções de jazz e MPB. Deste período, iniciou-se o
processo de composição de Manuscrito, álbum carregado de
interpretações autobiográficas e marco da nova imagem da cantora,
reflexo das mudanças pessoais que a própria artista vive. A carreira
anterior não atrapalha, pelo contrário, traz visibilidade ao trabalho
atual, de acordo com ela.
Os
ingressos para plateia gold estão esgotados. Ainda estão disponíveis
entradas para plateia alta, baixa e mezanino. Os valores variam entre R$
60,00 e R$ 120,00 e podem ser adquiridos na loja Multison do Iguatemi.
Em
entrevista, Sandy reverberou o novo momento ao falar sobre passado,
presente e futuro sem impor restrições a seus pensamentos.
JC
- Panorama - Já com 13 anos tu participaste de um programa
interpretando Elis Regina, o que não é nada infantil, mas mesmo assim
essa imagem juvenil durou. Como foi lidar com isso?
Sandy -
Foi chato, porque sempre queremos que a imagem percebida seja
equivalente ao que se é de fato. Mas fazer o que, não foi escolha minha,
não tenho o controle sobre tudo. As coisas ficaram mais fáceis quando
percebi isso, que tenho o controle só sobre os meus atos, sobre as
coisas que faço, que eu penso, que eu quero.
Panorama - Era necessário romper com teu irmão para mudar uma imagem preestabelecida?
Sandy -
Esse não era o objetivo. Quando terminamos a carreira, queríamos buscar
novos horizontes, coisas diferentes que pudéssemos fazer sem o outro,
porque parecia que as possibilidades do que poderíamos fazer junto
tinham se esgotado. Fomos construindo nossa carreira de maneira
despretensiosa e solta, mas já tínhamos feito de tudo e parecia que só
partindo para carreira solo, individual, é que iríamos conseguir
explorar novos territórios. Mas é claro que esse término da carreira em
dupla ajudou para que as pessoas me percebessem mais como adulta também.
Panorama - Como foi compor esse trabalho solo depois de 17 anos junto com o teu irmão?
Sandy -
Foi gostoso, tudo são novos desafios para mim. Compor o repertório foi
bacana porque foi um processo muito natural ao longo desse tempo todo.
Fui me ouvindo por dentro, refletindo sobre as minhas questões mais
existenciais e colocando no papel aquilo que eu estava sentindo. Foi um
processo de me ouvir mesmo e colocar para fora. Isso é muito gostoso,
ter essa liberdade para se expressar, para dizer tudo que está pensando e
sentindo. É como um exercício terapêutico. Esse disco representa o
início de um novo ciclo, que está me deixando muito feliz.
Panorama
- O Sergio Dias, dos Mutantes, disse em uma entrevista que te achava
uma grande cantora e era teu fã, mas também falou que tu precisavas de
alguém que te desse a oportunidade de enlouquecer. É isso?
Sandy -
(risos) Eu acho que não preciso de chance nenhuma para enlouquecer,
tive todas as chances. Se eu não enlouqueci até agora não me enlouqueço
mais, porque com 27 acho que a gente não enlouquece mais, isso é mais
para adolescente (risos). Eu não sinto necessidade disso. Sou uma pessoa
bem centrada e consigo ser artista mesmo assim. Todo mundo tem um pouco
de loucura, eu tenho certeza que eu tenho a minha, mas a uso para fins
criativos. Acho que todo artista tem em alguma parte uma alma de louco,
mas na minha vida cotidiana sou uma pessoa equilibrada e eu me dou bem
sendo artista e sendo assim.
Panorama
- Quem escreve ou canta em primeira pessoa está condenado a ter
interpretado o trabalho como autobiográfico? Qual a distância desse
disco de ti mesma?
Sandy -
É uma distância pequena, na verdade. As músicas todas têm muito de
autobiográficas, mas não é tudo. Eu uso personagem para me proteger
porque misturo coisas reais com coisas imagináveis e aí me sinto
protegida e não ligo que todo mundo ouça aquilo que estou dizendo porque
ninguém vai saber diferenciar o que é real e o que é ficção. Para mim, é
ótimo porque ao mesmo tempo eu tenho bastante liberdade para fazer e
não me sinto muito exposta.
Panorama - O mundo pop de shows em estádios lotados e fama insaciável cansou?
Sandy -
Não é que tenha me cansado, mas como fiz muito isso, quis experimentar
uma outra coisa. Quis fazer algo que é muito verdadeiro para mim, isso
de ser mais intimista, menos popular, fazer show para um público menor.
Agora me apresento em teatros, casas de show menores e é uma experiência
incrível. Sinto o público pertinho e tenho a liberdade de fazer o que
quiser no palco. Parece que não tem problema de errar, de experimentar,
de fazer alguma loucura, qualquer coisa que não está prevista.