27 de nov. de 2010

Em sua primeira turnê solo, Sandy apresenta cinco contidas variações sobre sua personalidade

Quase caipira, quase roqueira, a irmã de Junior ensaia se soltar mais na nova fase - mas não consegue. Ainda.

 

Sandy não é dada a radicalismos. Por isso, sua empreitada solo não poderia ser assim tão diversa da carreira mantida por mais de dez anos com o irmão, Junior. E não é. Manuscrito, o primeiro disco que ela pode chamar de seu, é autoral, mas traz muito do romantismo e um pouco do estilo um tanto caipira de cantar da dupla, fácil de verificar no jeito de escandir sílabas em versos como “E rece-e-e-ba o que seja seu”, de Beija Eu. Parte do repertório da primeira turnê, que mistura o disco próprio com covers e hits do passado, e que chegou nesta quinta a São Paulo depois de estrear em Curitiba na sexta passada, o remake de Marisa Monte vem acompanhado de outra mudança no perfil Sandy. Acordes dissonantes de teclado, na pegada Strawberry Fields Forever, dos Beatles, abrem e pontuam a canção. E indicam que Sandy quer rock – ou não. Em se tratando da sempre coesa filha de Xororó, é mesmo difícil falar em posições firmes. Mas pode-se dizer que Sandy, apesar da coerência que lhe é natural e até peculiar, apresenta personas distintas nessa turnê que é tão sua. Confira abaixo as cinco Sandys do palco paulistano.


Politicamente correta
Essa é a mais óbvia e deu as caras logo no início do show, quando a cantora pediu aos fãs mais entusiasmados – e não eram poucos, com o repertório de baladas e canções pops do CD Manuscrito na ponta da língua – que se sentassem em seus lugares. “Queria fazer um pedido para quem estiver de pé se sentar”, pediu a cantora, sem perder o jeito meigo, entre as primeiras músicas do show. Por culpa dos afoitos que queriam ver o show de pé, como um garoto que chegou a viajar para Curitiba para acompanhar o início da turnê, outros de mais idade como a sua avó Mariazinha, na primeira fileira da zona do gargarejo, ficavam apertados e sem visão. Ainda mais no minúsculo Citibank Hall, o antigo Palace - onde ela se apresenta novamente nesta sexta.

Autoajuda

Essa está no contexto. Mas não é necessariamente ligada à outra e foi vista com destaque somente uma vez, em que a cantora dedicou palavras ao “amado irmão, Junior”. Tomando como gancho os gritos frenéticos da plateia, Sandy filosofou. “Esse carinho me faz olhar para trás. É uma história que me dá muito orgulho, porque é o passado que nos constrói. Eu não seria quem eu sou se não tivesse passado por isso”, refletiu, antes de cantar Quando Você Passa e Estranho Jeito de Amar, que fizeram o cativo público urrar ainda mais.

Caipira
A influência dos tempos de Maria Chiquinha ainda tem ecos na voz de Sandy, embora se possa notar algum distanciamento daquele período. As palavras onduladas em silabações no estilo do pai Xororó, como em "hoje eu quero sai-i-ir só”, da música de Lenine, estão lá. Por outro lado, disputam e muitas vezes perdem lugar para sílabas esticadas, no jeitão MPB. Mas apesar disso e de algum sibilar nas palavras, Sandy é, afinal, uma boa cantora.

Saidinha
Hoje Eu Quero Sair Só foi pano de fundo de um dos momentos mais radicais da apresentação. Pouco depois de anunciar que iria fazer versões de canções de grande significado para ela, Sandy iniciou a faixa de Lenine – seria uma indireta para o irmão ou para o marido, Lucas Lima? – e se aproximou do bonito guitarrista André Caccia Bavva para um rápido diálogo musical, o único do show. Nada demais, é claro, já que estamos falando da discreta Sandy. Seu outro momento radical foi quando sacou o casaquinho de renda preta que fazia par com a saia do mesmo tipo – guarnecida por um short preto que impedia qualquer roupa íntima de se apresentar. Ela tirou o casaquinho e girou rápido sobre o ombro. Mas tão rápido que não deu o tempo necessário da piada.

Rock'n'roll
Com o microfone numa mão e a outra sobre o tripé, joelhos flexionados e um jeito de cantora pop, porém contida, Sandy mostrou o seu lado rock’n’roll. Cantou versões de músicas pesadas como Por Enquanto, da Legião Urbana, e Wonderwall, do Oasis, precedida pelo discurso de “eu amo o pop britânico”. “A sonoridade britânica é uma coisa que eu curto bastante”, disse Sandy.
Bem, Sandy não se permite variar muito sobre o seu próprio tema - o boa-moça way of life -, mas é certo que a irmã de Junior vive uma transição. Outras conti-iiii-das Sandys devem vir por aí.

Fonte: Portal Revista Veja