30 de nov. de 2010

Sandy: mais adulta, mais independente



Sandy traz a Porto Alegre o show do primeiro disco solo da carreira

A imagem é romântica: o artista acompanhado de um bloco de anotações para quando a inspiração surgir. Foi com esse tom clássico mais as folhas de um caderno inseparável há oito anos que Sandy concluiu o único trabalho totalmente autoral nesses 20 anos de carreira. O disco Manuscrito é o primeiro após o fim da dupla com o irmão Junior. Com 27 anos, a cantora entra em uma nova fase: mais intimista, sem o frenesi de multidões, com uma nova linguagem, ideias e sentimentos a expressar. Ou seja, mais adulta.
Nesta quinta-feira, a partir das 21h, Sandy apresenta no Teatro do Sesi (Assis Brasil, 8.787) o fruto de um trabalho gestado durante três anos. Ao encerrar em 2007 a dupla com o irmão, ela percorreu o Brasil interpretando canções de jazz e MPB. Deste período, iniciou-se o processo de composição de Manuscrito, álbum carregado de interpretações autobiográficas e marco da nova imagem da cantora, reflexo das mudanças pessoais que a própria artista vive. A carreira anterior não atrapalha, pelo contrário, traz visibilidade ao trabalho atual, de acordo com ela.
Os ingressos para plateia gold estão esgotados. Ainda estão disponíveis entradas para plateia alta, baixa e mezanino. Os valores variam entre R$ 60,00 e R$ 120,00 e podem ser adquiridos na loja Multison do Iguatemi.
Em entrevista, Sandy reverberou o novo momento ao falar sobre passado, presente e futuro sem impor restrições a seus pensamentos.
JC - Panorama - Já com 13 anos tu participaste de um programa interpretando Elis Regina, o que não é nada infantil, mas mesmo assim essa imagem juvenil durou. Como foi lidar com isso?
Sandy - Foi chato, porque sempre queremos que a imagem percebida seja equivalente ao que se é de fato. Mas fazer o que, não foi escolha minha, não tenho o controle sobre tudo. As coisas ficaram mais fáceis quando percebi isso, que tenho o controle só sobre os meus atos, sobre as coisas que faço, que eu penso, que eu quero.
Panorama - Era necessário romper com teu irmão para mudar uma imagem preestabelecida?
Sandy - Esse não era o objetivo. Quando terminamos a carreira, queríamos buscar novos horizontes, coisas diferentes que pudéssemos fazer sem o outro, porque parecia que as possibilidades do que poderíamos fazer junto tinham se esgotado. Fomos construindo nossa carreira de maneira despretensiosa e solta, mas já tínhamos feito de tudo e parecia que só partindo para carreira solo, individual, é que iríamos conseguir explorar novos territórios. Mas é claro que esse término da carreira em dupla ajudou para que as pessoas me percebessem mais como adulta também.
Panorama - Como foi compor esse trabalho solo depois de 17 anos junto com o teu irmão?
Sandy - Foi gostoso, tudo são novos desafios para mim. Compor o repertório foi bacana porque foi um processo muito natural ao longo desse tempo todo. Fui me ouvindo por dentro, refletindo sobre as minhas questões mais existenciais e colocando no papel aquilo que eu estava sentindo. Foi um processo de me ouvir mesmo e colocar para fora. Isso é muito gostoso, ter essa liberdade para se expressar, para dizer tudo que está pensando e sentindo. É como um exercício terapêutico. Esse disco representa o início de um novo ciclo, que está me deixando muito feliz.
Panorama - O Sergio Dias, dos Mutantes, disse em uma entrevista que te achava uma grande cantora e era teu fã, mas também falou que tu precisavas de alguém que te desse a oportunidade de enlouquecer. É isso?
Sandy - (risos) Eu acho que não preciso de chance nenhuma para enlouquecer, tive todas as chances. Se eu não enlouqueci até agora não me enlouqueço mais, porque com 27 acho que a gente não enlouquece mais, isso é mais para adolescente (risos). Eu não sinto necessidade disso. Sou uma pessoa bem centrada e consigo ser artista mesmo assim. Todo mundo tem um pouco de loucura, eu tenho certeza que eu tenho a minha, mas a uso para fins criativos. Acho que todo artista tem em alguma parte uma alma de louco, mas na minha vida cotidiana sou uma pessoa equilibrada e eu me dou bem sendo artista e sendo assim.
Panorama - Quem escreve ou canta em primeira pessoa está condenado a ter interpretado o trabalho como autobiográfico? Qual a distância desse disco de ti mesma?
Sandy - É uma distância pequena, na verdade. As músicas todas têm muito de autobiográficas, mas não é tudo. Eu uso personagem para me proteger porque misturo coisas reais com coisas imagináveis e aí me sinto protegida e não ligo que todo mundo ouça aquilo que estou dizendo porque ninguém vai saber diferenciar o que é real e o que é ficção. Para mim, é ótimo porque ao mesmo tempo eu tenho bastante liberdade para fazer e não me sinto muito exposta.
Panorama - O mundo pop de shows em estádios lotados e fama insaciável cansou?
Sandy - Não é que tenha me cansado, mas como fiz muito isso, quis experimentar uma outra coisa. Quis fazer algo que é muito verdadeiro para mim, isso de ser mais intimista, menos popular, fazer show para um público menor. Agora me apresento em teatros, casas de show menores e é uma experiência incrível. Sinto o público pertinho e tenho a liberdade de fazer o que quiser no palco. Parece que não tem problema de errar, de experimentar, de fazer alguma loucura, qualquer coisa que não está prevista.