30 de abr. de 2006

Para maiores


“Eles estão de volta”, anuncia, exageradamente, o slogan de lançamento do 15º disco de carreira da dupla Sandy & Junior, ausente do mercado fonográfico desde Identidade, de 2003. A exemplo do anterior, o novo disco, sem título, aposta no aspecto autoral, na tentativa de afastar definitivamente os filhos de Xororó (da dupla Chitãozinho & Xororó) da seara infanto-familiar, colocando-os no altar pop. “Já há alguns anos a gente não faz música direcionada para crianças, ainda que elas gostem do nosso trabalho”, esclarece Junior, que classifica o novo CD como retrato fiel dele e da irmã, aos 23 e 22 anos. “Provavelmente, quem vai se identificar mais com o trabalho é o público da nossa idade ou próximo dela”, acredita Sandy. A cantora lembra que a maioria dos fãs infantis de hoje não era sequer nascida quando eles iniciaram a carreira, voltada para esse segmento.

Produzido pelo argentino Sebastian Krys, o disco já sai com 100 mil cópias vendidas em dois formatos (CD e CD + DVD), garantindo à dupla a posição de blockbuster da Universal Music. Apenas Ivete Sangalo e Leonardo, que estréia na gravadora em junho, detêm o posto. Além da surpreendente postura autoral de Sandy, que assina sete das 12 faixas do CD, puxado pela faixa Replay, Junior fecha o petardo com a instrumental Último, provando que o trabalho de baterista free na banda Soul Funk está rendendo.

O rapper americano Taboo, do The Black Eyed Peas, e Milton Nascimento são os convidados da dupla, que acaba de se engajar em duas campanhas de cunho social. A Quero mais Brasil prega transparência e seriedade na gestão pública. Os artistas envolvidos na faixa Nas mãos da sorte (incluindo Milton Nascimento e o rapper Taboo) doaram os direitos para o Instituto Ayrton Senna, que financia projetos sociais e educacionais em todo o Brasil. A turnê de lançamento do CD começa em maio, no Rio e São Paulo. A seguir, Sandy e Junior falam sobre o novo trabalho.

CONVIDADOS

Sandy


“A idéia do Taboo, do Black Eyed Peas, surgiu por causa da música, que nasceu quando a gente já estava na pré-produção do CD, em Miami. A idéia era colocar um rap cantado em inglês e, como já havia um rap composto por Gabriel, o Pensador em português, resolvemos chamar o Milton Nascimento para declamar a letra como se fosse um poema. Trata-se de um hip hop misturado com samba.”

RÓTULOS

Sandy


“A música Discutível perfeição, que fiz com a Tati Parra, é meio que um desabafo mesmo, fala com todas as letras o que eu estava sentindo. Mas fizemos todo o CD com verdade, daí a função que ele tem de mostrar quem somos nós, e não todos esses rótulos que inventaram para a gente. Só Discutível perfeição foi, mesmo, um desabafo mais direcionado à imprensa e aos que ficam botando rótulos e fazendo fofocas. A imagem de princesa encastelada foi construída pela mídia em cima de coisas do meu passado, as pessoas não perceberam a minha transformação, ficaram com a imagem antiga. Acho até que algumas coisas permanecem por meu zelo à privacidade, pela necessidade de preservar a minha liberdade e intimidade”.

AMADURECIMENTO

Junior


“Se você tem 30 anos e vai para os 32, pode até mudar um pouco, vai se atualizando conforme as mudanças, mas a sua personalidade não muda. Agora de 18 anos para 22, a mudança é muito brusca. Você passa por muitas coisas, a sua cabeça muda. Você já é outra pessoa. É a fase de maior mudança que pode existir. Acredito que, a partir de agora, comece a ficar mais suave, com o amadurecimento”.

FACULDADE

Sandy


“Hoje (quarta-feira) eu acordei às 6h, estou um pouco cansada, mas tudo bem. Já estou me acostumando a essa vida! (risos). Estou gostando muito da faculdade, conseguindo freqüentar bem as aulas, sem problemas com faltas. Mas também organizo a agenda bastante, para poder dar conta de tudo. Estou só no 2º ano da faculdade de letras, ainda tenho muita coisa para aprender. Mas acho que, direta ou indiretamente, ela está me ajudando a fazer letras. A gente vai criando uma certa técnica, vai ficando mais crítica. É muito bom, porque o trabalho acaba saindo com mais qualidade”.

TRABALHOS PARALELOS

Sandy


“Vamos continuar com os nossos trabalhos solos depois que a divulgação deste CD estiver concluída. Quero levar o meu show de standards do jazz e da MPB para outras capitais, além de São Paulo. E o Junior também vai continuar com o funk dele, tudo acontecendo ao mesmo tempo. Eu adoro atuar e quero algum dia fazer de novo TV e cinema, mas espero um momento mais apropriado para isso. Agora são o CD e o show de lançamento dele”.

ELEIÇÕES

Junior


“A obrigação dos jovens é se mexer. O país é nosso, vamos viver por muito tempo nele e temos de lutar para que seja melhor. Todo mundo ainda está assistindo a um monte de palhaçada na área da política. É ano eleitoral e a gente começa a pensar: Em quem votar? Qual é a opção? E não tem ninguém. Durante as turnês, a gente se depara com coisas absurdas, não dá para acreditar. Que nem o lance do Falcão – Meninos do tráfico. Eu fiquei chocado. Por mais que a gente saiba daquilo, na hora que vê, assusta. Não dá para ficar quieto, não tem como. E como este é o CD mais autoral que já fizemos até hoje, aproveitamos para falar do assunto de maneira séria em Nas mãos da sorte”.

Fonte: Jornal Estado de Minas
Créditos: Guga - Fórum Alenda