26 de nov. de 2008

"Rock é bom de tocar", diz Junior



O lançamento do primeiro álbum da banda de rock Nove Mil Anjos nesta terça-feira (25) chega com uma polêmica: o grupo formado por estrelas é jogo de marketing?
Em entrevista à Folha Online, o baterista Junior Lima nega que a escolha de músicos conhecidos, como o baixista Champignon e o guitarrista Peu Sousa, tenha sido proposital.
Na entrevista, ele citou a banda Red Hot Chili Peppers como uma de suas influências, afirmou que não espera vender muitos discos com a banda e que não baixa músicas pela internet porque é aficionado por comprar CDs. "O meu recorde foi 43 CDs na bagagem", disse.
Leia abaixo a entrevista:
Folha Online - Você chegou a tocar outros ritmos, como soul em sua banda Soul Funk, mas decidiu montar uma banda de rock. Por quê?
Junior Lima - Porque rock é bom de tocar. Eu gosto muito de rock há um bom tempo. Essa foi uma tendência natural. Quando você tem muita vontade e se mexe pra isso, as coisas acontecem. E foi isso que aconteceu. Eu busquei evoluir instrumentalmente e não me acomodar onde eu estava. Aí acabei chegando onde estou agora.
Folha Online - E quais são suas bandas favoritas?
Junior - O que eu tenho mais ouvido ultimamente são as clássicas, como Led Zeppelin, Beatles, Nirvana, Red Hot Chili Peppers, Jimi Hendrix...
Folha Online - São essas as referências musicais do Nove Mil Anjos?
Junior - Quando se faz um rock nesse segmento que a gente está enquadrado - que não é metal nem punk - não tem como fugir das influências. Receber influências é mandamento do rock.
Folha Online - Você agora está atrás da bateria. Você se sente melhor tocando do que cantando?
Junior - Bateria foi meu primeiro instrumento. Tive minha primeira bateria aos três anos de idade, antes de começar a cantar. É uma paixão muito antiga, e é onde eu me sinto mais livre, me sinto em casa. Fico muito mais confiante do que cantando.
Folha Online - Sua intenção também é descolar a imagem de cantor de adolescentes?
Junior - Não. A minha intenção é me realizar como músico. A imagem é uma conseqüência que independe de mim. Muito dessa imagem depende do que as pessoas escrevem na mídia. Tem rótulos que criam ao longo do tempo e que fogem do meu domínio. Minha intenção é fazer justamente o que estou fazendo: tocar com bons músicos. Estou fazendo o que eu tenho vontade, só falta agora cair em turnê.
Folha Online - Então você não estava realizado cantando com a Sandy?
Junior - Eu estava realizado, mas agora estou realizado de outra maneira.
Folha Online - Você não teme que seus fãs tradicionais se assustem com as mudanças e acabem recusando o novo trabalho?
Junior - Eu acho isso natural. Toda banda que fez diferença na história do rock passou por mudanças. Quando chega o novo, todo mundo estranha. O nosso rock é diferente do que está rolando por aí no Brasil, e é diferente do que os integrantes da banda vinham fazendo. Quem é fã estranha. Seria ruim se não houvesse esse estranhamento porque a gente estaria sendo apenas previsíveis.
Folha Online - Algumas pessoas vêm dizendo que a formação de uma banda de músicos conhecidos foi uma jogada de marketing? É isso mesmo?
Junior - Não (risos). Até agora ninguém sabe quem procurou quem, foi uma parada muito natural.
Folha Online - Como foi a formação da banda?
Junior - Eu já tocava bateria em uma banda de black. Minha intenção era tocar em lugares pequenos. No mesmo período, o Champignon tinha o mesmo tipo de projeto, mas com rock e a gente acabou dando canja no projeto do outro. Logo de cara eu achei o máximo tocar com o Champignon. Eu também toquei com o Peu e enlouqueci. Quando eles começaram a falar em tocar juntos, acabaram lembrando de mim. Quando eu pensei em fazer rock, quis que fosse com bons instrumentistas, e as primeiras pessoas que vieram à cabeça foram os dois.
Folha Online - O disco da sua banda foi todo disponibilizado no MySpace. Você não teme que isso diminua as vendas?
Junior - Se eu for ficar tendo esperança com venda de disco... Quem compra CD é quem tem apego por determinada banda. Não existe mais essa coisa de venda de CD em números gigantes. Eu já cheguei a vender três milhões de discos. Hoje não dá. A internet está aí pra divulgar o trabalho. A galera está comentando muito no MySpace sobre o nosso disco, dizendo que gostou muito e quer comprá-lo.
Folha Online - O que você ouviu na internet ultimamente?
Junior - Estou sem tempo em razão do lançamento do nosso disco. Eu vou dormir sempre às 5h e acordo ao meio-dia.
Folha Online - Você baixa música pela internet?
Junior - Eu não quero ser hipócrita, mas não baixo músicas. Eu nem tenho um programa de download no meu Mac. Mas eu ouço muita música pela internet, como no Last.fm, ou no YouTube. E eu tenho um apego a CD, principalmente das bandas que eu gosto. Toda vez que eu vou para o exterior, passo uma tarde em alguma grande loja de CD pesquisando e saio com uma pilha.
Folha Online - Quantos discos você já trouxe em uma viagem?
Junior - O meu recorde foram 43 CDs na bagagem. Espalhei tudo entre as roupas pra não quebrar (risos). Aqui no Brasil eu não posso ficar tanto tempo em uma loja.
Folha Online - Qual a faixa de idade do público vocês esperam conquistar?
Junior - Eu acho que vai ser em torno dos 20 anos, até porque os integrantes da banda têm 30 [Champignon], 31 [Peu], 33 [vocalista Peri] e eu tenho 24. Eu sou o caçula de idade e o mais velho de guerra (risos).
Folha Online - Por que há poucas músicas românticas no disco?
Junior - Realmente tem pouca coisa. As letras são o resultado do que a gente é. O CD tem suas complicações, seu virtuosismo, mas tem uma parada mais pop no refrão, por exemplo. Ele tem sua veia pop, mas não acho que seja tão distante da linha pop que cabe ao rock. Nosso disco não tem lamentação. Aqui é peito erguido e bola pra frente.
Folha Online - Por que o nome "Nove Mil Anjos"?
Junior - O Peu sonhou com isso há uns dois anos. A gente nem era amigo, só se conhecia. Ele acordou no meio da noite assustado, mas não lembrava de nada que tinha sonhado. A única coisa que tinha em mente eram essas três palavras na seqüência. Quando a gente estava com a banda formada e pensando em um nome, ele lembrou dessa história e contou.
Toda a vez que a gente falava do assunto, esse nome voltava. Então a gente foi tentar saber o significado do nove em numerologia e na simbologia de outras civilizações. O nove tem a ver com renovação, ressurgir, recriar, e é o que a gente está fazendo: se reinventando. Aí deixamos esse nome, que é diferente, que pega.
Folha Online - Mas as pessoas não confundem o número de anjos?
Junior - Sim, as pessoas sempre perguntam 'são quantos anjos mesmo (risos)?' Logo os fãs se acostumam. Foram eles que apelidaram a banda com as três letras "9MA".
Fonte: Folha Online