Tão
logo foi anunciada como a "apimentada" garota-propaganda do camarote da
Devassa na Sapucaí, a certinha Sandy virou alvo - mais uma vez - de
muita gozação. Nada com que ela não esteja acostumada. Seu irmão, Júnior
Lima, também sabe o que é ser zoado. Quando a dupla com Sandy chegou ao
fim, o moleque, agora com 26 anos, anunciou uma guinada na carreira:
ele abraçou o rock e chegou a se aventurar como baterista de uma banda
de heavy metal. Pouca gente levou a sério, a Nove Mil Anjos naufragou,
mas o plano de Júnior de se fazer respeitar pela música, não. Desde o
ano passado ele toca na Dexterz, um trio de música eletrônica que se
apresenta esta terça na Rio Music Conference. Grande parte do público
que estará na Marina da Glória para recebê-lo cresceu vendo e escutando a
dupla sertaneja infantil e pode, mais uma vez, não levá-lo muito a
sério. Júnior jura que não tem mais medo e revela: o pior já passou. "No
começo eu tive um pequeno receio. Não sabia o que ia acontecer, até por
saber que, como qualquer outro gênero, é um meio que se protege. As
pessoas filtram e gostam do que é bom. Falei: 'caramba, será que vou ser
bem recebido?' Mas, se faz algo de qualidade, as pessoas te recebem
bem, sim". O GLOBO bateu um papo com Júnior por telefone, na semana
passada. Confira o que ele disse.
O
GLOBO: Na época da dupla com a Sandy, você chegou a ter público de 300
mil pessoas, mas era uma multidão ganha. Agora a estimativa é de que
umas cinco mil estejam lá no Rio Music Conference para receber o
Dexterz. Mas é outra galera, outro momento. Rola uma ansiedade antes de
entrar no palco e encarar essa nova galera?
JÚNIOR LIMA: Rola
pela diferença, por ser um gênero, um meio muito diferente daquele em
que eu trabalhei a vida inteira. Foram 17 anos de Sandy & Júnior. No
Dexterz estamos juntos há dois. Então, é diferente... Mas a gente já
está conseguindo ter uma integração legal, dá uma segurança maior.
A
galera que frequenta boates e festas de música eletrônica cresceu
ouvindo você cantar música sertaneja e pop com sua irmã. Não rola uma
estranheza, um preconceito?
JÚNIOR: No
começo eu tive um pequeno. Não sabia o que ia acontecer, até por saber
que, como qualquer outro gênero, é um meio que se protege. As pessoas
filtram e gostam do que é bom. Falei: 'caramba, será que vou ser bem
recebido?' Mas, se você faz algo de qualidade, te recebem bem. A
estranheza, na verdade, é normal. Passei muito tempo com imagem de
moleque, adolescente, sertanejo, as pessoas demoram a aceitar que as
pessoas evoluem. Hoje em dia esse tipo de coisa sumiu pra mim, a
aceitação está realmente sendo boa.
Em poucos anos você passou por três projetos diferentes. A sensação que se tem é que ainda está procurando seu caminho...
JÚNIOR: A minha primeira banda depois do fim da supla, a SoulFunk, era um projeto de tamanho limitado.
A gente tocou na noite de São Paulo por três anos. Era semanal, e toda
quarta lotava. Mas era aquilo, a gente não queria crescer. Depois, uma
banda que acabou não rolando muito, que a gente parou de tocar, foi a
Nove Mil Anjos. Teve vendagem absurda, pusemos em aparelho telefônico,
chegou a 500 mil discos. Foi um passeio pelo rock, uma coisa de
experimentação para mim. Agora este está dando certo e se firmando.
Estou numa fase da minha vida artística em que não me ponho limite, vou
experimentando. Estou numa situação em que posso me dar esse direito,
não preciso de espaço na rádio. Mas estou sempre fazendo algum
trabalhinho paralelo, dirigi show da minha irmã, clipe da Família Lima
ano passado... Outros tipos de realização artística.
E está dando para ganhar dinheiro?
JÚNIOR: Claro!
Esse é um mercado bacana. A gente tem feito em média sete ou oito shows
por mês. E olha que acabou de começar... Já fizemos até show fora do
Brasil, em Orlando e Miami. Lá, estive na Winter Music Conference, achei
incrível, tem os melhores DJs, reúne uma galera muito boa. Fiz uma
semaninha intensiva de música boa. Sempre gostei de música eletrônica,
mas só quando saía para fazer balada, não era um som que eu ouvia no dia
a dia. Depois que comecei a ouvir, fui aprender mais sobre o gênero, a
entender mais do assunto, conhecer experiências mais legais.
Como define o som que vocês fazem?
JÚNIOR:
É um live. O principal é house music, mas a gente transita entre
gêneros próximos. Enfim, é com bateria eletrônica, ipad, violino.
Quais são as suas influências na música eletrônica?
JÚNIOR: Tem
alguns DJs que tenho ouvido bastante. Nick Fantchuli, Josh Wink,
Deadmau5, gosto de coisas que já não são tão... São influências, mas
SoulWax, 2 Many DJs...
Você compõe música eletrônica?
JÚNIOR: A
gente produziu por enquanto duas faixas e não lançou ainda, nem deu
tempo de finalizar 100%. A gente está sem tempo de parar em estúdio.
Este ano um dos principais focos é produzir material próprio, lançar EP,
CD... o que for. A gente quer lançar nossas próprias músicas. Eu já
tenho muita coisa começada, coisas que já comecei a compor, falta
produzir. Gosto muito de compor, tenho tentado caminhar para essa onda
eletrônica. É bem diferente, mas é música. Eu tenho teoria de que, se
você se apropria das referências, aquilo se torna a sua arte. Ficaram
legais algumas coisas que eu fiz.
Você escuta música sertaneja?
JÚNIOR: Não.
Eu sei, às vezes, por tabela, através do meu pai, quem são alguns nomes
que surgem, mas realmente não tenho acompanhado nada. Exceto, é claro, o
trabalho dele e do meu tio, por serem da minha família. Realmente
admiro o trabalho deles, que são mais da antiga. Mas não é um gênero que
escute ou consuma.
Quando olha para o passado, sente o quê? Aquilo é uma herança maneira ou é algo que o aprisiona hoje?
JÚNIOR:
É a minha história, tudo me completa, me faz o que eu sou. Eu tenho
influência de tudo quanto é coisa, e é claro que tenho orgulho de ser o
que eu sou.
Fazendo
uma pesquisa com seu nome no Google rola de tudo, incluindo muito
comentário maldoso. Você se sente frustrado por ficar nessa vitrine? Não
gostaria de viver uma vida anônima, mais na sua?
JÚNIOR: Meu
sonho é que nego só falasse da minha música. Eu sinto que, pelo fato de
ter crescido na frente de todo mundo e tido a minha vida exposta, minha
vida tomou importância grande, em vez de só o meu trabalho. Admiro
bandas que conseguem manter o foco na arte, no trabalho, em vez de quem
está namorando ou deixando de namorar ou pegando. Todo mundo que
apresenta um bom trabalho e não expõe a própria vida é assim. Sou muito
brother do (Rogério) Flausino, por exemplo. Ninguém fica falando da vida
dele. e a minha vida, que sempre foi exposta, as pessoas ainda se acham
no direito de acompanhar, dar opinião, julgar. Chega hoje em dia um
moleque da minha idade, a galera vai ouvir o som e dizer se é bom ou
não. Ninguém quer saber se o moleque era gordinho, descoladinho, nerd, o
que era, vai aceitá-lo. Agora, quando eu cheguei fazendo rock, por mais
que eu goste, toque, faça parte da minha vida, muita gente não
acreditou em mim.
Você fica por dentro das fofocas que dizem sobre você?
JÚNIOR: Não
pesquiso mais sobre o meu nome, já desencanei. enquanto ficar me
preocupando com isso vou gerar mais comentários. O que eu tenho a fazer é
deixar que as coisas caminhem. Eu respondo (às fofocas) com música.
Isso me incentiva a tentar fazer música melhor e chamar a atenção assim.
Fonte: OGlobo