Diz que já viveu tudo o que tinha para viver enquanto estrela pop. Que ambições tem agora para a sua carreira a solo?
Não tenho grandes ambições. O meu objetivo maior é realizar-me enquanto artista e pessoa e fazer o que mais gosto que é música. Se com isso poder levar algo de positivo às pessoas já fico feliz. Não estou a lançar este disco a solo com a intenção de fazer um grande sucesso ou alcançar números paralelos àqueles que consegui com o meu irmão. Só quero realizar-me como artista.
Alguma vez se sentiu sufocada pelo sucesso, pela indústria, pelas multidões enquanto andou na estrada com o seu irmão?
Sufocada não porque eu tinha um compromisso com essas multidões. O público era muito grande e tinha uma enorme expectativa em relação a nós. Eu não podia, nunca, esquecer-me deles.
Mas alguma vez se sentiu assustada com a dimensão que as coisas tomaram, afinal de contas a Sandy & Junior chegaram a tocar para um milhão de pessoas num único concerto?
Sim. Houve várias vezes em que me senti assustada. Em muitos casos acho que nunca chegávamos a cair em nós mas houve momentos de maior consciência em que me senti de facto um pouco assustada. O sucesso e as multidões à nossa espera pode ser algo assustador. No final da nossa carreira ainda era algo que nos surpreendia.
Quando terminou a dupla com o seu irmão há dois anos, chegou a pensar em parar e afastar-se do mundo da música?
Nunca cheguei a pensar nisso como uma possibilidade real, mas fiz sim um exercício mental de tentar pensar em mim sem cantar e sem ser artista.
E a que conclusão é que chegou?
Descobri que não iria ser feliz sem música e é por isso que estou aqui de novo (risos).
Ainda no campo do exercício mental, o que acha que estaria fazer se se tivesse efetivamente afastado da música?
Não sei. Se hoje não fosse cantora talvez estivesse a investir na carreira de atriz. Seria sempre alguma coisa ligada às artes. Curiosamente não me imagino a exercer nenhuma profissão relacionada com o curso de letras que tirei na faculdade, mas quem sabe um dia. Gosto muito de escrever e quem sabe ainda não lanço um livro.
Este disco abre com um tema- single chamado ‘Pés Cansados'. É um desabafo em relação ao passado?
Não. Pode haver alguma referência ao passado mas eu acho que esse tema até fala muito sobre o meu presente. É verdade que o sucesso, s números e as multidões podem ter gerado algum cansaço em mim, mas o facto é que os meus pés sempre me levam de volta para a música e para esta vida.
A Sandy começou muito nova, com cerca de dez anos a dar concertos e a viajar por todo o Brasil. Alguma vez pensou que pode ter perdido parte da sua infância e da sua adolescência?
Não. Eu no fundo fiz aquilo que gostava de fazer. E depois tive a oportunidade de crescer com o meu irmão que é uma das pessoas mais importantes na minha vida. Depois não dá para sentir falta das coisas que nunca tivemos, como a privacidade e a liberdade total com as outras crianças e jovens. Antes de cantar eu já era filha de um pai famoso e eu já era muito notada e assediada antes de me tornar famosa. Por isso não me lembro de algum momento na minha vida em que não fosse famosa.
Isso não tem sido um fardo muito grande?
Não. Claro que eu não sei o que é sair à rua para comprar pipocas, mas isso são coisas muito pequenas e sem importância quando comparada com a felicidade que eu tive ao longo destes anos.
Porque é que decidiram terminar com a dupla Sandy & Junior?
Porque já estávamos juntos há 17 anos e a determinada altura pareceu que já não havia mais para onde ir. Acho que já não dava para a gente crescer mais enquanto artista. Parar foi uma vontade que bateu nos dois ao mesmo tempo. É possível voltarmos a fazer qualquer coisa juntos, mas para já nem dá para pensar nisso.
De qualquer forma o elo de ligação com o seu irmão não foi quebrado. Ele é um elemento importante neste disco. Era importante continuar a tê-lo presente?
Sim. É muito bom tê-lo ao meu lado. Ele como produtor é muito talentoso. Ele e o meu marido juntos, que são os produtores, fizeram um trabalho excelente. E conseguiram ser imparciais, e respeitar aquilo que eu estava a querer (risos). Eles foram muito fieis àquilo que queria. Não há coisa melhor do que trabalhar com quem a gente ama.
O que é que o seu irmão faz neste momento?
Ele começou com uma banda de rock, mas acabaram por se separar. Neste momento ele toca bateria num projeto de música eletrônica ao vivo junto com um cunhado meu. O projeto chama-se Dexter e ele toca em muitas festas pelo Brasil.
Este seu disco está apontado para um publico mais adulto e vocacionado para uma área de mercado onde existe uma concorrência muito maior. Que espaço vê para si?
Acho que a minha música tem algo de alternativo e não sei classificar aquilo que faço, e por isso estou livre. Eu quero o público que me quiser.
Acha que os seus fãs do Sandy & Júnior vão transitar agora para este trabalho?
Sim, afinal de contas os fãs de Sandy & Júnior também cresceram como eu e o meu irmão e agora têm a minha idade.
Como é que o seu pai vê está a ver esta sua carreira a solo?
tempo todo a ouvir o meu disco.
Fonte:Vida/Correio da Manhã