
Declaração de Sandy repercute e mostra que o assunto é o atual maior tabu da sexualidade feminina: a virgindade do século XXI?
Por
muitos anos a cantora Sandy cultivou a imagem de menina virgem e
pudica. Recentemente, já casada, surpreendeu ao assumir o rótulo de
“devassa” na campanha publicitária de uma marca de cerveja. Era de se
esperar, portanto, a polêmica em torno de sua declaração para a revista
Playboy de agosto: “é possível ter prazer anal”. A frase caiu na boca
do povo não só pelo estilo possivelmente contraditório de Sandy, mas
pelo tema, que ainda é delicado no universo feminino. Lucas Lima, marido
da cantora, e Xororó, o pai, não gostaram quando a citação foi parar na
capa da publicação masculina: “Que pai gosta de ler aquilo?”, disse o
astro sertanejo em entrevista ao jornal Folha de S.Paulo. Em tempos que
a virgindade não é mais o grande dilema sexual feminino, e que elas
assumem buscar o próprio prazer na cama, seria o sexo anal o principal
marco de experimentação da mulher moderna? E porque ainda julgamos
moralmente – mesmo que de forma velada – uma mulher que assume praticar e
gostar de sexo anal? Para Oswaldo Rodrigues Junior, psicoterapeuta
sexual e diretor do Instituto Paulista de Sexualidade, a prática do sexo
anal é mais comum do que se imagina. No entanto, o constrangimento em
tocar no assunto seria explicado pelo peso moral que a modalidade ainda
carrega. “Verbalizar implica poder ser alvo de julgamento por outras
pessoas. A mulher que expõe isso demonstra segurança”, diz ele. De
acordo com Carmita Abdo, coordenadora do Programa de Estudos em
Sexualidade da Universidade de São Paulo (USP), o assunto gera fofocas e
choca porque tem uma conotação de maior liberdade sexual. “É uma
prática historicamente menos aceita porque foge de um padrão voltado
para a reprodução. É um sexo pelo prazer, estritamente ligado ao
erotismo”, explica. Outras formas de sexo que não incluem a penetração
vaginal também já foram mais polêmicas. É o caso do sexo oral. “Hoje
está em evidência, mas já foi vilão e bastante questionado. Agora esse
espaço é do sexo anal”, completa Abdo.
Uma preferência de poucas
São
apenas 15% das mulheres brasileiras que dizem praticar sexo anal com
frequencia, segundo um levantamento de Carmita Abdo. “Tem uma proporção
que eventualmente aceita, mas não é algo regular e apreciado”, diz. Para
Oswaldo, as mulheres raramente demonstram o desejo anal, mas aceitam a
experimentação. Uma pesquisa coordenada por ele na década de 1990
apontou que mais de 80% das mulheres já tinham feito sexo anal alguma
vez, mas apenas metade faria novamente – e a maioria tinha como objetivo
satisfazer o parceiro. Os dados ainda comprovam que Sandy está certa:
sim, é possível ter prazer anal, porém nada comum para as mulheres.
“Apenas 2% disseram que sentiam orgasmos com a penetração anal”, aponta
ele.
A
prática de sexo anal na cultura ocidental não é algo novo. “Tem sido
praticado desde sempre e é objeto de questões morais historicamente”,
avalia Junior. A penetração anal já foi inclusive uma alternativa para a
preservação da virgindade vaginal. “Era uma intimidade usada entre
casais para evitar o rompimento do hímen até a década de sessenta”,
aponta Abdo. “Na medida em que a virgindade foi perdendo o valor como
uma prova de resguardo da mulher, o sexo anal passou a não ser tão
praticado, virou uma alternativa complementar e não substituto”, conclui
a pesquisadora.
Fonte: Ig