16 de ago. de 2006

Istoé Gente: As tentações de Sandy

Aos 23 anos, com microfone em punho, ela empolga Caetano Veloso. Fora dos palcos procura mostrar-se diferente, sem perder o encanto da afinada menina de seis anos que o Brasil aplaudiu também na adolescência. Hoje, a doce Sandy confessa ser uma mulher veloz. Sua velocidade máxima bateu a marca de 160 km/h e ela já levou várias multas. A outra marca recente está localizada na nuca, escondida por uma
cortina de cabelos castanhos. Sandy decidiu tatuar-se e conta a tática que usou para não desapontar o pai, o cantor Xororó. Entre tentações juvenis, um desejo contundente: “nasci para ser mãe”. Em setembro, a cantora sai em turnê internacional com o CD Sandy & Junior, o 15º da carreira.



A tatuagem
Desde janeiro deste ano, Sandy carrega na pele uma tatuagem na nuca. Muito mais do que traduzir um sentimento, para a cantora, ela significa liberdade afetiva. Quase toda adolescente já teve vontade de fazer uma tatuagem – e com Sandy não foi diferente. Quase sempre,
o pai é o principal obstáculo entre o desejo e a realização – com Sandy, também não foi diferente. “Ficava meio apreensiva: ‘Ai, ai,
será que eu conto que fiz? Será que eu conto antes de fazer?’”, receava a cantora, que realizou alguns ensaios antes de tatuar na nuca as palavras “Omnia Vincit Amor”.
Sandy tirou de uma antiga jóia a frase em latim do poeta romano Virgílio (que significa algo como “o amor vence tudo”). A primeira vez em que bateu a vontade de tatuar a pele foi em 2005. Ela estava acompanhada do namorado, Lucas Lima. “Ele foi retocar a tatuagem dele. Já gostava dessa frase e pedi para o tatuador desenhar em mim. Achei linda, parecia uma jóia pendurada na minha nuca. Como eu estava meio doente, fui embora. Queria voltar na semana seguinte. Não rolou”, conta Sandy. Um ano mais tarde, a vontade voltou com força total. A cantora pediu ao maquiador que refizesse o desenho em sua nuca. Em casa, não parava de se olhar no espelho e ganhou o apoio do namorado e da mãe, Noeli. No dia seguinte, uma viagem marcada pela manhã foi transferida para a noite. “Parecia coisa do destino”, lembra ela, que não mostra a tatuagem.
Decidida de que era a hora, tramou a melhor maneira de contar ao pai. O momento escolhido? O almoço em família. “Pai, estou com horário marcado para fazer uma tatuagem”, disparou, sem cerimônias. “Ããããã?”, assustou-se Xororó. “Vou fazer uma tatuagem”, insistiu Sandy. “O quê???”, respondeu, incrédulo, o pai. Percebendo o impasse, a mãe entrou em defesa: “É uma coisa pequena, discreta. Na hora que quiser, ela cobre com o cabelo”. Em silêncio, Xororó
ouviu as ponderações e cedeu.
Tivesse o pai sido contra, nada teria mudado. Sandy já estava determinada. “Não tem mais aquela coisa de ‘não, você não pode’
faz tempo, até porque não tenho mais idade para pedir nada para
pai e mãe”, afirma. “Eu ia fazer a tatuagem se meu pai não quisesse. Mas ia fazer meio chateada por ele não estar aprovando.” Independente financeiramente há anos – com o dinheiro que ganhou ao longo da carreira, a cantora poderia “fazer o que quisesse”, como ela mesma ressalta –, Sandy diz que o que a mantém morando na casa dos pais é o vínculo emocional e a confiança conquistada ao longo dos anos. “Se eu precisasse procurar liberdade fora da minha casa, eu iria. Mas tenho o que preciso”, garante ela, que só pensa
em sair de casa para casar. 

150,160km/h
Sandy atribui às responsabilidades profissionais assumidas ainda na infância o fato de não ter sido uma adolescente rebelde. Diz que não teve tempo para reivindicar certos direitos comuns para quem já passou dos 13, mas ainda não atingiu a maioridade. O primeiro embate que teve com os pais foi para poder dirigir o próprio carro, aos 18 anos. Xororó e Noeli, mesmo após Sandy tirar a carteira de motorista, preferiam que os seguranças da família guiassem a filha pelas ruas de Campinas. “Bati o pé (e disse): ‘sou responsável, eu posso’. Eles compreenderam, passaram a confiar mais em mim.”
É ao volante do carro que Sandy admite realizar sua maior transgressão: guiar velozmente. Dona de um jipe Toyota, ela diz que já levou diversas multas por excesso de velocidade, o bastante para quase perder a carteira. “Sou um pouco louca... Ah, não é louca... Dirijo rápido demais, entendeu?”, assume, aos risos. “Não é que dirijo perigosamente. Presto muita atenção. Dirijo velozmente, digamos. Sou um pouco aventureira para essas coisas. Gosto da sensação de liberdade que dá uma estrada em alta velocidade”, completa, antes de revelar a velocidade máxima que atingiu com o pé fundo no acelerador. “Ai, ai, ai, minha mãe vai ficar louca comigo... No carro do meu irmão, já dei 150, 160 km/h.”
Fazer uma tatuagem e dirigir acima dos limites da lei são tentações típicas para uma garota rica de 23 anos. Mas, ao mesmo tempo em que celebra suas conquistas, Sandy convive com as desvantagens de se tornar mais velha. Ela sabe que um simples pisão no pedal do freio basta para parar seu carro – mas já descobriu que não há ferramenta ou santo a ser invocado para diminuir a velocidade da ação do tempo no corpo feminino. “Percebi que depois dos 21 a gente começa a fazer assim (faz sinal descendente com a mão), começa a descida do corpo. De vez em quando entro em desespero quando percebo alguma coisa própria da idade. Depende da luz que você olha, dá para ver uma celulite que não via antes”, diz. “Antes eu tinha que controlar para não emagrecer demais. Hoje, se não me cuidar, até engordo um pouco.”
A preocupação com a forma física fez com que a cantora passasse a se exercitar mais. Com uma academia em casa, ela faz musculação de três a quatro vezes por semana, sob a supervisão de um personal trainner. Ela também evita frituras e hambúrgueres. “Gosto mais de comida saudável: arroz, feijão, salada e carne. Um bom PF (prato feito) faz mais a minha cabeça.”



“Nasci para ser mãe. Tenho um instinto maternal forte e quero botar pra fora assim que achar que está na hora”, diz Sandy

O futuro
O desempenho do novo álbum afastou os rumores de que a dupla Sandy & Junior se separaria. Lançado em maio, o CD homônimo vendeu 150 mil cópias, o que valeu disco de platina – são números baixos quando comparados aos 2 milhões vendidos em As Quatro Estações, em 1999, mas satisfatórios para os padrões atuais do mercado. Sandy confessa que ela e o irmão já conversaram sobre a separação, mas diz que acha “estranho” todas as vezes que sobe ao palco sem Junior. No ano passado, foram duas oportunidades: uma, com Caetano Veloso, na festa dos 40 anos da Globo, e a outra no Bourbon Street Bar, em São Paulo, no show Credicard Vozes, onde interpretou sucessos do jazz e da bossa nova.
“Cantar com o Caetano é algo a que não me acostumo, me deixa
um pouco tensa. Ele já havia me elogiado antes. Acho que o que pegou foi essa responsabilidade de corresponder. Minha voz ficava trêmula quando cantei com ele a primeira vez”, afirma ela, que, em setembro, começa turnê internacional que passará pelos Estados Unidos e Europa.
A viagem para o Exterior renderá a Sandy diversas faltas na faculdade – ela é aluna do segundo ano do curso de letras da Unicamp. A temporada longe do Brasil a afastará também do namorado, o músico Lucas Lima. Eles se conhecem há 7 anos, e, após um breve namorico na adolescência, estão juntos há dois. A relação parece predestinada a acabar no altar. “Nossa intenção é um dia casar. Mas não tem nada certo, nenhum plano, nenhuma providência sendo tomada”, diz, ao desmentir que teriam ficado noivos em fevereiro. “Nasci para ser mãe. Tenho um instinto maternal forte, que eu quero botar para fora assim que achar que está na hora. Quero ter dois ou três filhos. Vou ser
uma mãe cabeça aberta, mas daquelas exigentes, que botam limites. Vou ser linha dura.”




“Sexo é uma extensão do amor”, diz a cantora, que namora o músico Lucas Lima há dois anos – eles se conhecem há sete – e
com quem tem a intenção de casar
Papo-firme
Voto para presidente: “Não sei, está muito difícil.”
Governo Lula: “Estou muito insatisfeita com o governo em geral,
mas gosto de ter esperanças, de achar que vai melhorar.”
Livro que está lendo: Quando Nietzsche Chorou, de Irvin D. Yalom.
Último filme que assistiu: O Segredo do Abismo.
A última vez que sorriu: “Agora (risos).”
A última vez que chorou: “Fiquei com os olhos cheios de lágrimas quando o Brasil perdeu a Copa.”
Do que tem medo: “Da morte. Meio profundo, né?.”
Um pesadelo recorrente: “Muitas vezes sonho que pessoas próximas a mim morreram. Vivo chorando em sonho.”
A maior mentira que já contou: “Se eu contei a mentira não é
agora que vou revelar (risos).”
Aborto: “Cada caso tem que ser avaliado. Não dá para fazer um pré-julgamento, dizer é crime, sou a favor, ou sou contra.”
Sexo: “É uma extensão do amor.”
Drogas: “Tira o controle, então não apóio. Não quero experimentar.”
Rock’n’roll: “É tudo de bom. Se a vida fosse só rock’n’roll seria ótimo.”
A última vez que levou um fora: “Já dei fora, mas nunca levei
um, acredita?”


 Créditos: Istoé Gente