2 de mai. de 2006

Jornal O Povo: Entrevista com Sandy e Junior

De cara nova

Eles estão de volta, dizia o cartaz na entrada do saguão do Hotel Unique, em São Paulo, onde dezenas de jornalistas aguardavam a coletiva de imprensa de Sandy e Júnior e fãs tentavam uma brecha na segurança para entrar no Hotel. Depois de dois anos e meio sem lançar um novo disco, o 15° álbum chega às lojas em duas versões: CD simples e CD + DVD. Exibido o DVD, que é um making off da produção do disco, Sandy e Júnior aparecem para responder às perguntas dos jornalistas. Ela, com os cabelos mais ruivos do que as fotos mostram, de preto e unhas vermelhas, ele de jeans. Depois de atravessar o paredão de fotógrafos, a dupla conversa sobre o novo trabalho.

O que mais Sandy e Júnior - agora com vinte e poucos anos -querem mostrar é que não são mais crianças e nem adolescentes. Os dois mostram-se donos do próprio nariz e principalmente da própria música.

O disco sem nome e sem foto da dupla na capa é o começo de uma nova trajetória na música, que segundo eles é mais madura e autoral. Sandy compôs sete das doze músicas do disco e Júnior assina a co-direção. O som é mesmo diferente do produzido em Identidade (2004), mas Sandy pediu durante a coletiva, para que evitassem comparações com trabalhos anteriores. "Essa é uma nova", justificou. Na entrevista a seguir, a dupla divide a palavra, fala sobre o novo disco e reafirma que não pensa mesmo em se separar.

Pergunta – Este é o trabalho mais autoral e o que mais revela a personalidade de vocês. É também um grito contra os rótulos?
Sandy – Também. A música "Discutível Perfeição" é um desabafo meu. Todo o CD tem muita verdade. Esses que estão aí no CD somos nós e não esses rótulos que a imprensa inventa. Sempre existem novas fofocas sobre a gente, a imprensa trabalha com isso e quase sempre são assuntos que não tem nada a ver com a gente.

Pergunta – Então é um trabalho para agradar a vocês mesmos?
Sandy – Com certeza.
Júnior – Não adianta fazer o que você não é, a gente não pode trair a nós mesmos, por isso mudamos tanto ao longo da nossa carreira, porque sempre fomos fiéis ao que estávamos sentindo.

Pergunta – Quais as principais modificações do novo trabalho em relação aos anteriores?
Sandy – Este é o disco em que mais ousamos. É a transição para um caminho novo, estamos traçando nossa identidade musical e esse é o primeiro passo. Arriscamos mais, em tudo até na maneira de cantar. Cuidamos para que nada ficasse mecânico.
Júnior – O CD não é perfeito, existem alguns errinhos, mas é isso que o torna de verdade.

Pergunta – O público de vocês sempre foi formado em grande parte por crianças, mas vocês disseram que este trabalho é diferente. Que público vocês pretendem atingir com este novo trabalho?
Júnior – O disco é para quem quiser comprar. Existem crianças que ainda hoje gostam do trabalho da gente, mas daqueles antigos, que fizemos criança. Esse trabalho é um retrato de nós dois.
Sandy – O disco é para quem tem a nossa idade, não temos planos para voltar a fazer trabalhos para crianças, mas eu gosto muito desse público. É uma coisa estranha até porque muitas crianças não eram nem nascidas quando começamos a cantar e elas são sempre fiéis, e isso é muito legal, além de ser um público puro e sincero.

Pergunta – Vocês trabalharam pela primeira vez sem prazo dado pela gravadora para terminar o CD. Foi muito melhor assim?
Sandy – Foi essencial. É muito melhor trabalhar sem pressão. O processo criativo flui muito mais naturalmente. Tudo foi feito de maneira muito intuitiva, natural, e foi o trabalho mais gostoso que já fizemos. Vinha alguma coisa na cabeça e a gente fazia.
Júnior – Música é arte, e você só consegue um resultado bom com liberdade, afinal, você está lidando com a criatividade.

Pergunta – Há cinco anos vocês imaginavam que o Júnior iria assinar a co-direção de um disco da dupla?
Júnior – Nunca, não fazia a menor idéia que isso ia rolar tão rápido, sempre quis fazer parte dos créditos do disco, mas não acreditava que seria aos 22 anos. Tive que aprender muita coisa na hora, mas foi uma experiência e um crescimento como profissional muito importante.
Sandy - Eu imaginava, mas também não achei que fosse acontecer tão rápido. Estamos numa fase mais madura, e isso é muito visível no CD. Estávamos há dois anos e meio sem lançar um novo trabalho, e muita coisa mudou em nós desde lá. Somos jovens e aconteceu muita coisa na nossa vida. E o trabalho tem que acompanhar.

Pergunta – A maioria das músicas do disco é romântica. O peso da música sertaneja ainda é muito forte na música de vocês?
Sandy – Isso influenciou no início, porque era nosso pai que produzia o disco. Mas com o tempo fomos criando identidade cultural e hoje não tem nenhum elemento na nossa música que seja sertanejo, não entendo onde é possível ver isso.
Júnior – Hoje posso provar por A mais B que a voz da Sandy não tem nada de sertaneja.

Pergunta – Sandy, você diz no DVD que adora o novo, mas tem medo dele. Como você tomou a decisão de mudar de corte de cabelo e mudar o som de vocês também?
Sandy – Mudar o cabelo não faz parte desse novo a que me refiro. Eu já queria mudar o cabelo e preferi esperar pelo lançamento do disco, porque aí já vem tudo novo. O novo que digo ter um pouco de medo é em relação ao som, arriscamos muito, chegamos a colocar um samba no meio de uma das músicas. Em "Discutível Perfeição", pensei que talvez não devesse colocar no disco porque poderia estar me expondo demais, mas aí pensei: Ah! Vamos lá.
Júnior – É sempre muito bom ter desafios, porque a gente se renova e dá um gás no trabalho.

Pergunta – Como vai ser o novo show de vocês?
Sandy – O show mistura repertórios, mas as músicas antigas estão todas repaginadas, para ficar tudo com a mesma cara.
Júnior – Remixamos grandes sucessos para ficar com o mesmo som que fizemos nesse CD, atualizamos músicas antigas. Até para ajudar a consolidar esse novo caminho.

Pergunta – Sandy, a faculdade de letras (Português/Inglês) tem ajudado muito você a compor?
Sandy – Eu gosto muito da Faculdade, estou conseguindo conciliar. Não tenho muitas faltas, hoje mesmo acordei às seis da manhã e fui para a faculdade. Sei que tenho muito o que aprender ainda, mas já sinto que a coisa vai mudando. Você vai criando técnica e agora sou mais crítica ainda em relação ao meu trabalho. Mas já ajuda e muito em tudo o que vou escrever.

Pergunta – Vocês continuam com a carreira individual?
Sandy – Continuamos sim, depois que estiver mais tranqüila, vou retomar meus trabalhos com o jazz e fazer alguns shows.
Júnior – Vou já já fazer show com a Soul Funk, sou um multi-homem.

Pergunta – Vocês têm novos planos para televisão ou cinema?
Júnior – O foco agora é o novo CD. Não temos nenhum projeto em vista e não estou a fim de fazer nada agora. A música que é minha realidade, é o que sei fazer e o que faço melhor. Mas claro que às vezes rolam alguns convites irrecusáveis e aí a gente faz.
Sandy – Eu gosto bastante de atuar, tenho uma ligação bem mais forte do que o Júnior em relação a isso. Mas agora não estou pensando em fazer nada.

Pergunta – Vocês são completamente diferentes nos gostos musicais. Como é fazer um disco juntos, rola muita briga?
Sandy – Somos diferentes na hora de ouvir música, no nosso comportamento, na personalidade, mas na hora de criar a coisa flui muito rápido.
Júnior – A Sandy é bem mais brava que eu.

Pergunta – O CD não tem nome, por quê?
Sandy – Ficamos na dúvida sobre qual nome colocar, e também não queríamos foto. Aí pensamos: ah, fica sem nome mesmo.
Júnior - Esses bonequinhos somos nós hoje. Eu até colei eles na porta do lavabo da minha casa.

Pergunta – Sandy, porque você acha que ficou com a fama de princesa que tanto te incomoda?
Sandy – Essa foi uma imagem construída pela mídia em cima de coisas do meu passado. Eu era uma criança, virei adolescente e agora sou adulta. Como sempre zelei pela minha privacidade, querendo preservar ao máximo minha intimidade, me fechei. Não queria que me fotografassem e por causa disso não saia para onde a imprensa estivesse e até fugia dela. Só que eu não estava encastelada, só não estava onde a imprensa estava. E eu sempre detestei esse rótulo.
Júnior – Isso ficou antigo. Quando éramos criança, não pensávamos no que cantávamos. Agora é diferente, é isso que estamos mostrando. Tenho muito orgulho do meu passado e faria tudo de novo, mas passou.

Pergunta – Sandy, você compôs uma música (Tudo Pra Você), pela primeira vez, no piano. Como foi essa experiência?
Sandy – Estou em sete composições das doze músicas do álbum. Agora essa em especial eu gosto mais. Dá um orgulho maior ainda, é como um filho só meu. Fiz tudo desde o primeiro acorde e nunca tinha feito uma harmonia, me arrisquei e gostei muito do resultado. Essa, em especial, tem a minha essência.

Pergunta – Dizem que você fez essa música para o Lucas Lima, seu namorado. É verdade?
Sandy – Claro que todas as músicas românticas refletem o momento que estou vivendo com ele, mas não fiz especificamente para ele. Até posso compor alguma música para ele. Nada impede, mas não foi essa.

Pergunta – ôNas Mãos da Sorte® é um rap bem politizado. Qual a visão de vocês desse novo Brasil?
Júnior – O País é nosso, todos temos que se mexer de alguma forma. A gente dá de cara com tanta coisa absurda, como esse lance dos meninos do tráfico, não dá para ficar quieto. Aí pensamos em falar alguma coisa séria, chamar a atenção para esses problemas.
Sandy – Sabemos que temos um público enorme que se espelha na gente, o que fizemos é muito pouco, mas temos que falar de coisa séria também.

Pergunta – Como vocês decidiram o nome do produtor, e como surgiu a idéia de Júnior assinar a co-direção do disco?
Júnior – Estávamos afim de conhecer novos produtores e eu falei com o Jesus Lopes, que é o diretor da Universal Music, como era o trabalho que estávamos pensando e eu fui para os Estados Unidos conhecer alguns produtores e o Sebastian Krys foi com quem mais a gente se identificou. Eu sempre quis trabalhar com isso, e também já fazia algumas maquetes em casa, porque tenho um home-studio, e a Sandy grava voz e violão em gravador simples mesmo. Era uma coisa que já pensava em fazer.

Pergunta – O Identidade, último álbum da dupla não alcançou um milhão de cópias vendidas. Qual a expectativa de venda de vocês para esse CD?
Júnior – Quem vendeu nos últimos anos um milhão de cópias?
Sandy – Ninguém!
Júnior – O que nos preocupa não é não ter atingido o um milhão e sim a pirataria. A gente conhece todo mundo do meio e sabe que está difícil concorrer com a pirataria, seria inocente acreditar que esse concorrência não existe e não vê-la refletida em números. Além disso a gente não faz trabalho para vender. Espero que um público se identifique até para que a gente continue fazendo sempre.
Sandy – Ainda não paramos para pensar em quanto vai vender, ou em será que vai vender.

Pergunta – Como surgiu a idéia de convidar o Taboo, do Black Eyed Peas para cantar na faixa, Nas Mãos da Sorte?
Júnior – Essa música nasceu quando a gente já estava produzindo o disco. Pensamos em colocar uma faixa em inglês e já pensamos logo em ser ele, quando o convidamos ele topou de cara.
Sandy – Pensamos em alguém que tivesse o mesmo estilo musical que buscamos no álbum, e o Tabbo tem a coisa do hip- hop, samba e bossa.

Serviço:
CD 15° Álbum. CD simples, R$ 32,90. CD + DVD, R$ 44, 90.