Resenha de show
Título: Manuscrito
Artista: Sandy (em foto de Rodrigo Amaral)
Local: Vivo Rio (Rio de Janeiro, RJ)
Data: 7 de maio de 2011
Cotação: * * *
Agenda da turnê Manuscrito em 2011:
* 13 e 14 de maio - São Paulo (SP) - Citibank Hall
* 28 de maio - Belo Horizonte (MG) - Palácio das Artes
* 3 de junho - Recife (PE) - Chevrolet Hall
* 4 de junho - Natal (RN) - Teatro Riachuelo
* 18 de junho - Brasília (DF) - Centro de Convenções Ulysses Guimarães
Na reestreia da turnê do show Manuscrito, Sandy se emocionou ao cantar a balada Dias Iguais com a participação virtual de sua parceira britânica na canção, Nerina Pallot, vista e ouvida através da imagem dos espelhos que compõem o gracioso cenário de Zé Carratu. A emoção soou verdadeira.
Nesse número, Sandy põe sua alma em cena. No bis, a cantora também parece pôr sua alma em cena quando canta ao piano Esconderijo e Tempo, duas músicas que se destacam na irregular safra de inéditas do primeiro álbum solo da artista, Manuscrito, editado em maio de 2010. Um ano após o lançamento do disco, Sandy caminha no seu tempo. Manuscrito, o CD, esboçou alguma maturidade na obra da compositora sem romper radicalmente com a estética juvenil da última fase da dupla Sandy & Junior. O show segue pelo mesmo (seguro) caminho. Até porque o público eufórico que tem lotado as apresentações do show Manuscrito - com gritos que abafam por vezes o que Sandy canta e diz em cena - é o mesmo que vibrava com as turnês faraônicas de Sandy & Junior, cujos hits Quando Você Passa (Turu Turu) e Estranho Jeito de Amar são estrategicamente inseridos no roteiro que alterna covers de resultado irregular com 12 das 13 músicas do disco Manuscrito (apenas Mais um Rosto não figura no repertório do show). E, se o show Manuscrito não alça voo musical mais alto em que pesem a boa arquitetura dos arranjos e a direção segura do mano Junior Lima, é pela qualidade desigual do repertório autoral de Sandy, quase todo composto com Lucas Lima.
Há alguns temas bonitos escritos com sensibilidade. Pés Cansados (a balada que abre o show com o coro ensurdecedor da tribo de fãs), Dedilhada (entoada sob a imagem projetada de um relógio) e Ela / Ele (número de beleza plástica pelas imagens bucólicas projetadas nos espelhos que funcionam como telões) são músicas que sinalizam real evolução na obra de Sandy - crescimento negado somente por quem tem os ouvidos tapados pelo preconceito contra os artistas que transitam no mercado musical mais populista. Em contrapartida, músicas mais triviais como a funkeada Tão Comum, Duras Pedras e O que Faltou Ser jogam o show para baixo, indicando que uma abertura do leque de parceiros e colaboradores seria salutar num futuro trabalho solo de Sandy.
Da mesma forma, a escolha dos covers nem sempre resulta feliz. Beija Eu - pedra fundamental na construção inicial da obra autoral de Marisa Monte, lançada há 20 anos no disco Mais (1991) - se ajusta bem à voz de Sandy, que já não soa infantilizada no show Manuscrito. Sandy também surpreende ao revelar insuspeito suingue quando canta Black Horse and the Cherry Tree, tema da cantora e compositora escocesa KT Tunstall. Já as abordagens de Casa (Lulu Santos) e Put your Records on (Corinne Bailey Rae) soam tão corretas quanto burocráticas enquanto Hoje Eu Quero Sair Só (Lenine, Mu Chebabi e Caxa Aragão) já ganhou registros (muito) mais inspirados. Mas é Wonderwall - obra-prima do Oasis, banda importante na adolescência de Sandy, de acordo com texto dito pela cantora em cena - que evidencia o principal problema dos covers: a insegurança de Sandy com as letras das músicas alheias, todas lidas em cena com o auxílio providencial de teleprompters. Contudo, nada é pior do que a interpretação mecânica de Por Enquanto, música do primeiro álbum da Legião Urbana que Sandy aborda em ambiência de pop rock - reconstruída ao fim do show quando ela canta Quem Eu Sou, o segundo single do CD Manuscrito - sem levar em conta as emoções e sentimentos embutidos nos versos de Renato Russo (1960 - 1996). Ao reviver Por Enquanto, Sandy não põe sua alma em cena como faz ao elevar os tons em Sem Jeito, número em que se arrisca na percussão. Gracioso como o cenário de Zé Carratu e em alguns números elegante como a luz criada por Maneco Quinderé, Manuscrito é um show que cresce quando Sandy põe sua alma e emoções reais no que canta.
Fonte: Blog Notas Musicais