22 de nov. de 2011

Crítica: A ousadia de Sandy

Cantora mostra que o que parecia um desafio ao escolher o repertório de Michael Jackson para show especial era só uma demonstração de que ela é, sim, uma boa cantora



Que provocação Sandy pode ser capaz de fazer, que empáfia ela pode ter na postura e na voz para cantar uma canção como “Bad”, de Michael Jackson? Basta dizer que ela foi abusada o suficiente ao escolher as músicas dele para apresentar no Circuito Cultural Banco do Brasil, que passa por algumas capitais e está atualmente em São Paulo, no Via Funchal, com shows também de Maria Bethânia interpretando Chico Buarque (dia 22) e de Lulu Santos com o repertório de Roberto e Erasmo Carlos (dia 23). Sandy abriu a série na capital paulista, na segunda-feira 21.

A primeira da noite foi exatamente “Bad”. Ao ouvi-la, não dá nem para lembrar que ali talvez estivesse a tal provocação, já que Sandy tem fama de boa moça. Assim, de começo, só dá mesmo para se impressionar diante da constatação de como a música ficou bonita em sua voz. O refrão não tem a ira que pesava na voz de Michael, mas tem a perfeição técnica – pela qual ela também é conhecida – e um certo exercício de liberdade.

As referências visuais se restringiram ao cenário, com algo de club dos anos 1970, e a detalhes do figurino, como o chapéu, a luva em uma só mão e uma jaqueta vermelha para “Thriller”. Os arranjos pareciam desconstruir Michael, ao mesmo tempo em que enfatizavam que o que fez dele o Rei do Pop foi a genialidade de sua música, não o espetáculo grandioso ou sua vida miseravelmente bizarra. O resultado foi a ênfase no há de blues e soul em Michael.

A escolha de repertório foi também inteligente, com músicas que combinavam com a voz de Sandy. Nas baladas, com “Ben” ou “Music and Me”, ela estava em seu elemento, segura e confortável. Já em “The Way You Make Me Feel” ou “Thriller”, embora não tenha havido nada que diminuísse a excelência da performance, careciam de uma atitude mais relaxada. Sandy parece tão ocupada em soar perfeita que não se dá ao direito de ficar à vontade. A voz todo mundo já sabe que está lá, não é algo com que ela precise se preocupar. E é algo tão natural que mesmo que ela estivesse tentando controlar a tosse causada por uma dor de garganta, não errou nem saiu do tom.


No setlist, teve ainda “Billie Jean”, “Earth Song”, “Man in the Mirror”. Em “Leave me Alone”, sobre o cansaço da superexposição, Sandy disse compartilhar o sentimento com o ídolo, porque ambos cresceram sob os holofotes. “Gone Too Soon” foi a homenagem literal a Michael. E a noite terminou com “Don’t Stop Till You Get Enough”.


Fonte: IstoéGente