26 de set. de 2011

Entrevista: Junior Lima em outra estação

Se num primeiro momento ele apareceu na TV com cabelo espetado e carinha de bebê chorão, hoje, Júnior Lima, dono do próprio nariz, ainda ouve rock. Especialmente em seu carro. Mas desde que aderiu ao circuito da música eletrônica, passou a se deleitar com o bom e velho rock and roll disfarçado, no estilo Soulwax (banda de rock alternativo), que é bem indie. Atualmente, o artista, que chegou a manter uma banda de soul music (a Soul Funk), só tem olhos – e principalmente ouvidos – para ferramentas bem mais tecnológicas. Haja iPad e controle do Wii para o projeto live Dexterz, que Júnior (com mais de 16 milhões de discos vendidos) mantém com a dupla Crossover Júlio Torres e Amon Lima. “Percebi que um som daqueles, feito ao vivo, tinha muitas possibilidades. Eles já faziam isso há quatro anos. Dava pra perceber que eles já tinham pego as manhas, já tinham uma linguagem pronta. Fui falar com eles um dia, e sugeri colocar uma batera no meio daquilo, como uma canja. Eles toparam”, anunciou Júnior, em entrevista à Privilège Mag.

 Ainda no “métier” da produção, Júnior Lima produziu o disco “Manuscrito”, da irmã Sandy, que saiu em 2010, e dirigiu o show de divulgação. “Agora, estamos preparando a gravação do DVD (homônimo) em parceria com o ator Douglas Aguillar”, ele adianta, informando que a previsão de lançamento é para este ano. Paralelo ao estúdio, ele guarda as preferências no iPod, como a Mutemath, banda de Nova Orleans ainda pouca conhecida por aqui mas que, de alguma forma, vem aguçando os sentidos do jovem músico para as carrapetas. Mas se ele levou as batidas de sua música com o projeto Dexterz para grande parte do Brasil e até para os Estados Unidos, quando será a vez de Juiz de Fora e de Búzios? Sem resposta, Júnior deixa o recado que “está à disposição do Privilège”. Se depender da agenda dele, realmente vai ficar difícil. Até o final do ano, estão previstas apresentações em diversos estados brasileiros, como São Paulo, Distrito Federal, Santa Catarina, Amazonas, Tocantins e Rio Grande do Sul. No entanto, é certo que a paixão pela pista parece não ter prazo de validade. Resta-nos aguardar.

 Privilège Mag – De onde vem o interesse pela música eletrônica? Como nasceram o Dexterz e a relação com a dupla Amon e Júlio?

 Júnior Lima - Sempre tive contato com a música eletrônica porque sempre fui de sair para baladas. Numa das apresentações do Crossover em São Paulo, fui falar com o Amon, que já era meu amigo há dez anos, sobre a possibilidade de armarmos algo juntos, uma vez que ficaria legal incluir bateria e percussão naquele som. E os caras, é lógico, toparam. Aguardamos a hora certa para a estreia, que foi numa festa da revista “Cool Magazine” há três anos.

 E quais foram as primeiras impressões?

 Gostamos muito de fazer e rolaram outros convites. Na época, ainda anunciávamos como Crossover até que chegou a hora de oficializar uma parada que estava ficando séria. Daí surgiu o Dexterz. Percebemos que tudo muda num set percussivo, cruzado automaticamente. O Crossover já é mais melódico e, além da minha presença, a personalidade daquele trabalho foi alterada por causa da distinção sonora de cada um.

 Quais são suas maiores influências musicais?

 O DJ que mais tenho ouvido é Joris Voorn. Mas tem ainda Nic Fanciulli e Josh Wink que são ótimos. Com esse contato mais próximo e direto, comecei a entrar mais nesse mundo do eletrônico, embora tenha pesquisado e produzido pouco fora do Dexterz.

 Você já experimentou várias vertentes da música, desde o sertanejo, a música pop com elementos do rock e, agora, integra um projeto eletrônico. De que forma esse conhecimento auxilia na hora de produzir um som novo?

 Ah, é muito bom. Acaba juntando muita influência e gerando versatilidade que ajuda até no meu jeito de tocar bateria. Existe um sotaque na hora de tocar, um somatório de tudo. Atuei no quadro “Olha a minha banda”, do Caldeirão do Huck, e observei que cada banda é de um gênero.

 E a sua familiaridade com o rock ajuda de alguma forma na pista? Rola improviso?

 A gente mantém 90% da noite improvisada, mas tudo depende do público e da região. Depende também da reação ao primeiro set. É claro que a vontade é improvisar a maior parte do tempo, principalmente porque lidamos com quem quer interagir de alguma forma. Seja com palmas ou dançando sem parar, as pessoas estão o tempo todo interagindo. Esta é a escola de quem tocou em banda, o Amon sabe disso. E o Júlio acabou entrando nessa onda.

 Por ter começado muito cedo na música, de uma certa forma você deve ter adquirido responsabilidade e disciplina com aquilo que está sendo produzido…

 Esse negócio de virar DJ é muito relativo, pois ninguém se torna um da noite para o dia, assim como ninguém sai cirurgião de uma hora para outra. Existe um modo muito superficial de enxergar tudo isso, o que acaba banalizando a profissão de DJ. A gente, por exemplo, está aqui para produzir música e não só mixar. São muitos anos de profissão. Júlio tem quase 20 anos como DJ, e eu estou caminhando para 21 (anos) de carreira, como Amon. Isso faz com que prezemos pela qualidade musical acima de tudo. Amon fala que se não nos preocuparmos com a música, ninguém o fará.

 Você nota uma dificuldade do público em perceber que aquele Júnior de 15 anos atrás cresceu?

 É um público bem diferente. Lógico que tem coisas em comum, mas a maior parte é da galera que está ali para ouvir música eletrônica e, em questão de minutos, já esqueceu (do outro Júnior). Nós, é claro, conseguimos desligar para realizar uma parada que seja legal.

 Você sente mais liberdade em produzir atualmente do que durante a carreira com a Sandy?

 Eu me sinto mais à vontade para fazer o que estiver a fim, sem compromisso com gravadora. Meu único critério é fazer música da melhor forma possível, agradando a quem agradar. Essa tem sido minha satisfação pessoal. Com 27 anos de idade, meu privilégio é o direito de escolher.

 Qual foi o melhor espaço em que o Dexterz já tocou? Por quê?

 Cada festa é muito peculiar, posso estar me esquecendo de uma ou de outra, mas eu fico com a apresentação eufórica no Green Valley, em Balneário Camboriú (SC). Lá, a cena é muito forte e fizemos um set de quatro horas, o que não é muito comum, já que a performance dura até duas horas, no máximo.

 Você é “interneteiro”?

 Sou na medida do possível, apesar dos 700 mil seguidores no Twitter. Não sou viciado por causa da liberdade que se perde com tamanha exposição. As redes sociais viraram um celeiro de aspas para a imprensa, tento manter uma distância segura.

 Na cabeceira: “Não sou muito de leitura. Sou hiperativo para concentrar em leitura.”

 CD player: “Let’s love tull, do Lenny Kravitz”

 Com pipoca: “De tantos, fico com The other guys”

 Aplausos: “Radiohead no Brasil”

 Sol ou lua? “Sempre noite”

 Twitter? “Melhor é o que indica boas opções. E o pior é aquele que parece diário”

 Na comanda: “Vodka, talvez cerveja, mas quando estou tocando, água”

 Power Rangers, Mariquinha ou Maria Chiquinha? “Maria Chiquinha foi a primeira, bombou a gente”



Fonte: Privilège Mag