Com alguns dias de antecedência, cantora libera novo disco no qual mostra a segurança de uma mulher e artista madura
“Me desfaço da vergonha / E de
certezas incertas / Pois quem olha pra fora, sonha / E quem olha pra
dentro, desperta”: é neste misto de verso autoral com o pensamento do
fundador da psicologia analítica Carl Jung que Sandy apresenta, ao
público, na primeira faixa, o disco Meu Canto – Ao Vivo no Teatro Municipal de Niterói
(Universal Music, 2016). Com alguns dias de antecedência, a artista
liberou seu novo trabalho, a princípio, nas plataformas digitais na
última quinta-feira (16)
A data para que o álbum físico e o DVD cheguem às mãos dos fãs continua mantida para a próxima sexta-feira (24). O disco é o segundo ao vivo de sua carreira solo, mas o quinto trabalho considerando o EP limitado Princípios, Meios e Fins (2012), que antecipou cinco faixas do disco Sim (2013). Meu Canto chega, exatamente, para consolidar esse trabalho solo de estúdio, que começou com o Manuscrito (2010) e apresentar cinco inéditas, duas regravações e uma dos tempos da dupla Sandy e Junior, totalizando 17 canções.
O álbum foi gravado em novembro de 2015, no Teatro Municipal de Niterói, no Rio de Janeiro, num espetáculo dirigido por Raoni Carneiro. Já a Turnê Meu Canto estreou em maio deste ano, em São Paulo, e passou por mais cinco cidades até agora.
Os versos misteriosos da inédita Meu Canto, faixa de abertura do disco, convidam o ouvinte a apreciar uma Sandy, aos 33 anos, mais segura com seus passos solo. Sim, logo em seguida, confirma a ideia de se abrir para o mundo, sem medo de expor seus pensamentos através de suas letras. Perdida e Salva, por exemplo, é uma das tantas declarações românticas da artista que se mantém acertadamente no repertório desde os tempos de Manuscrito.
O novo disco também chega acompanhado de um hit inédito: Me Espera,
escrita por ela em parceria com o marido Lucas Lima e o cantor Tiago
Iorc, com quem divide os vocais na música, já é um grande sucesso, com o
clipe próximo de bater seis milhões de visualizações e o single
(lançado há pouco mais de um mês) figurar entre os mais baixados do
iTunes Brasil.
Ainda entre as inéditas, o destaque maior vai para Salto. Sandy já declarou em entrevistas que a letra é, do início ao fim, dedicada ao seu marido. Nos shows, ela menciona que a música foi “arrancada do peito” ao compor. Os arranjos fortes e a interpretação potente da cantora comprovam a força da faixa.
Outra participação não menos significativa é a de Gilberto Gil em Olhos Meus. A canção de autoria de Sandy ganha versos novos – maior que a apresentada em estúdio no disco Sim – e um arranjo que se aproxima de um triste (porém, lindo) blues. A voz de Gil se destaca, dando mais beleza e profundidade à música.
Nas regravações, que diminuíram consideravelmente nos shows recentes
da cantora, as duas (e únicas do show) inclusas no álbum soam bem
orgânicas. A releitura para All Star, de Nando Reis, é tão bem executada quanto Cantiga Por Luciana,
que se torna uma das mais simbólicas do disco não só pela qualidade
musical, mas pelo cunho pessoal: a faixa é um presente póstumo de Sandy
ao seu avô (e também cantor) Zé do Rancho, que faleceu em fevereiro de
2015 e sempre quis que ela gravasse a canção. E emoção é a palavra certa
para definir este momento.
E para os que ainda acreditam no (quase impossível) retorno da dupla Sandy e Junior, a nostalgia está presente em Nada é Por Acaso, que relembra os tempos áureos do duo. A música, inclusive, já teve uma versão ao vivo deles, no disco gravado no Estádio do Maracanã, em 2002. Mas a vibe do arranjo em Meu Canto, bem mais íntimo, está longe de representar a megalomania de 17 anos de parceria.
A divertida Ponto Final encerra o álbum com o gostinho de querer ver esse show na prática. Afinal, sem precisar provar mais nada para ninguém, Sandy está mais a vontade em demonstrar o seu canto amadurecido, revelando a plenitude de uma artista que sabe muito bem como lidar – agora mais do que nunca – com a sua carreira.
Fonte: JC Online