Reprodução
Confira um release que foi distribuído para a
imprensa, durante a coletiva realizada dia 26.
Entrevista:
Esse é o 15º disco da carreira de vocês. A produção leva a assinatura do
argentino Sebastian Krys, que, pela primeira vez, trabalhou em um CD de Sandy e
Junior. Como foi o encontro musical de vocês?
SANDY: Foi maravilhoso, rolou uma empatia muito grande, de ambas
as partes. O Sebastian não conhecia nada dos nossos projetos anteriores e veio
trabalhar conosco com a cabeça sem pré-concepções. Ele compreendeu, já em
nossos primeiros encontros, qual era a linguagem que eu e o Junior pretendíamos
para este CD.
JUNIOR LIMA: Por mais experiente e conceituado que seja, o Sebastian é
um profissional com uma característica que considero fundamental: ele sabe
ouvir. E isso foi de extrema importância para que nosso encontro musical
fluísse naturalmente, sem imposições do nosso lado e vice-versa. O clima de
trabalho foi dos melhores. Rolaram
afinidades profissionais e pessoais que, dentro do processo de criação,
considero importante e muito saudável. Ele soube capturar nosso momento de
transição musical e também equilibrar nossas influências e experiências
pessoais neste álbum.
A canção “Tudo pra você” foi composta apenas pela Sandy e de forma inédita: ao
piano. Aliás, Sandy assina 7 das 12 canções do novo álbum (sozinha ou em
parcerias). Compor já faz parte da sua rotina, Sandy?
SANDY: Sim, há mais ou menos oito anos. De forma bastante
natural, a composição passou a fazer parte do meu dia-a-dia e acredito que,
cursando a faculdade de Letras, que comecei no ano passado, eu possa me
aprimorar mais nisso. Também acredito que o processo criativo tenha vindo mais
à tona com o passar dos anos. Mas não há nenhuma regra para compor. No meu
caso, por exemplo, existem músicas que começo pela letra, outras pela melodia.
No caso de ‘Tudo Pra Você’, comecei pela melodia, depois, sentei-me ao piano e
compus, pela primeira vez, a harmonia. A concepção da letra veio praticamente
ao mesmo tempo. Posso dizer que foi realmente um momento especial.
Recentemente, as experiências musicais solo de cada um ganharam bastante espaço
na mídia. Junior com o projeto Soul Funk e Sandy relendo standards da música
americana. De que maneira esses vôos individuais enriqueceram o trabalho em
dupla, retomado nesse CD?
JUNIOR LIMA: O projeto paralelo com a banda Soul Funk, que já
completou mais de um ano e meio, tem me acrescentado muito musicalmente.
Passam-se os meses e sempre percebo uma grande evolução no meu trabalho,
principalmente como baterista. Aprendi a ter mais ‘jogo de cintura’, a lidar
com imprevistos e improvisos musicais. Na Soul Funk recebemos convidados para
“canjas“ quase todas as semanas, músicos dos mais variados estilos e “pegadas“.
O lance é ouvir e sair tocando. Posso dizer que estreitei ainda mais minha
relação com a música e o reflexo disso está neste nosso 15º CD para o qual me
senti preparado para tocar bateria em todas as faixas, por exemplo.
SANDY: Acredito que todas as experiências que vivemos sempre nos
acrescentam, nos trazem um aprendizado diferente. Tanto o projeto ‘Credicard
Vozes’, em que fiz releituras de standards de Jazz e MPB, quanto o projeto
‘Aquarius’, no qual cantei música erudita (do repertório de Villa Lobos) ao
lado da Orquestra Sinfônica Brasileira, foram experiências pra lá de ousadas
que me enriqueceram como cantora e como ser humano.
Mesmo não estando dentro do segmento musical pop/rock estes projetos me
trouxeram novos elementos para o trabalho final, seja na técnica ou até mesmo
na própria ‘ousadia’. Isso sem contar o prestígio que me proporcionaram. O que
vocês ouviram durante o tempo em que estiveram trabalhando no novo álbum? Há
influências diretas ou indiretas das preferências musicais de vocês nesse
disco?
SANDY: Musicalmente, me considero bastante eclética. Gosto de
pop, rock, MPB, jazz... Ultimamente tenho ouvido mais jazz: Ella Fitzgerald,
Diana Krall, Chet Baker, etc... Gosto muito do trabalho da cantora canadense
Sarah McLachlan. Gosto de Cássia Eller, Jamie Cullum, Coldplay, Lenine, Caetano
Veloso... Nossa, são muitos nomes. Admiro muita gente da música nacional e
internacional, mas procuro não me influenciar diretamente na hora de produzir
meu trabalho.
JUNIOR LIMA: Influências diretas do que eu tenho ouvido transportadas
para este disco, não. O que rola é aquele esquema de ouvir muito um som e isso
acabar influenciando um pouco no meu estilo. Ouço de tudo também, Jimi Hendrix,
Audioslave, Red Hot Chilli Pepers, Lenine, Lenny Kravitz, Coldplay, Ed Motta e
vários outros.
Junior toca bateria em todas as faixas do CD – já dá pra dizer que é esse é o
seu instrumento preferido? Além de co-assinar canções como “Estranho jeito de
amar” e “Nas Mãos da Sorte” e “Último”, você assina a co-direção do CD, ao lado
de Otávio de Moraes. Estar nos bastidores abre novas possibilidades para o
Junior intérprete e músico?
JUNIOR LIMA: Bateria é meu primeiro instrumento, o que tenho mais
facilidade para tocar. Gosto muito de guitarra também. Sobre estar nos
bastidores deste novo álbum, posso dizer que comecei este processo no CD
Identidade e dei mais ênfase neste 15º álbum. Assumi mais responsabilidades,
acreditei mais no meu processo criativo ao compor mais, inclusive uma faixa
instrumental (“Último”). Curto muito o trabalho de produção musical. Quando eu
tiver um pouco mais de tempo, com certeza produzirei mais coisas.
A faixa “Nas mãos da sorte” traz colaborações especiais. E de artistas tão
distintos quanto Milton Nascimento e o rapper Taboo, do grupo californiano The
Black Eyed Peas. Como surgiu a idéia de convidá-los?
JUNIOR LIMA: Eu e Sandy curtimos muito Black Eyed Peas e achamos
que o som deles se encaixaria perfeitamente no que havíamos pensado em fazer em
‘Nas Mãos da Sorte’. No caso do Milton Nascimento, além da admiração que sempre
tivemos por ele, achamos que sua voz era perfeita para recitar o texto de
autoria do Gabriel, O Pensador. Uma voz serena, conhecida e, acima de tudo, com
muita credibilidade.
“Discutível perfeição” é um petardo, não Sandy? A letra é uma resposta a algum
incidente específico, ou serve pra todos os que já te patrulharam ao longo dos
anos?
SANDY: Não, “Discutível Perfeição” não é direcionada para uma
pessoa ou situação específica. É apenas uma manifestação em forma de música de
muito do que tenho falado nos últimos anos. Algumas pessoas já ouviram ou
perceberam até mesmo antes da música. Talvez ela sirva mais para quem ainda não
havia entendido o recado: sou um ser humano como qualquer outro. O objetivo
central de ter composto e gravado esta música foi o de esgotar alguns assuntos
recorrentes e botar pra fora algumas de minhas verdades.
Além das composições de vocês (com parceiros) e de colaboradores habituais na
discografia de vocês, como Vitor Pozas e Alexandre Castilho, há uma novidade em
termos de repertório: uma canção inédita de Frejat e Mauro Santa Cecília, “O
Preço”. Como ela chegou até vocês?
JUNIOR LIMA: Conheci o Frejat durante uma participação que
fizemos juntos no Senna in Concert. Cantamos e tocamos guitarra juntos na
ocasião. Pouco tempo depois, vim a conhecer também o Mauro Santa Cecília, poeta
e grande parceiro do Frejat como compositor. Em uma conversa com o Mauro ele
disse que me mandaria composições pra que eu e Sandy ouvíssemos. ‘O Preço’ foi
uma delas e decidimos gravar.
As canções do álbum falam de relações amorosas, cobranças típicas de quem
namora e sofre, enfim, questões comuns ao dia-a-dia de jovens da idade de vocês.
Os fãs de vocês também cresceram?
SANDY: Sim, os fãs cresceram. A média de idade do público em
nossos shows gira em torno dos vinte e poucos anos. Têm fãs recentes, fãs que
nos acompanham há um tempo, fãs desde o começo. Tem de tudo um pouco. Tem pais e
mães que admiram nosso trabalho. Até crianças – que ainda não eram nascidas
quando começamos a carreira, há 15 anos!!! Acho muito interessante, mesmo
porque não fazemos música direcionada pra elas há vários anos. Posso dizer que,
assim como meu gosto musical, nosso público também é bem eclético! E eu gosto
muito disso.
As preferidas de cada um: dá pra escolher?
SANDY: Pergunta muito difícil para um álbum tão recente! Porque
quando a gente acaba de finalizar um trabalho, a tendência é estar mais apaixonada
por ele do que pelos anteriores. Posso dizer que gosto bastante de ‘Estranho
Jeito de Amar’, ‘Discutível Perfeição’... ‘Tudo Pra Você’ é especial – minha
primeira composição ao piano!
JUNIOR LIMA: Gosto de todas, até porque, do contrário, não estariam no
CD! É claro que rola uma ‘preferência’ por umas e outras. ‘Nas Mãos da Sorte’,
‘Dessa Vez’ e ‘Você não Banca Meu Sim’ são algumas delas.
Palavras de Sandy e Junior:
Mesmo sob a (repetitiva) pressão de que eu e Sandy
iríamos nos separar, de que não haveria um próximo CD conjunto, continuamos
muito tranqüilos para apresentar nosso novo trabalho. O último álbum,
Identidade,
foi lançado em outubro de 2003. Concordo que existia uma brecha para tais
‘especulações’, principalmente porque separados, consolidamos com bastante
aceitação (sem falsa modéstia) nossos projetos paralelos – eu com a Soul Funk e
a Sandy com projetos de Jazz e MPB. E que bom que tudo isso aconteceu! Que bom
termos pisado no freio! Porque só assim conseguimos, juntos (só eu e a Sandy,
mais ninguém), chegar à conclusão de que o 15º CD seria, mais uma vez, nosso!
Um álbum com as influências musicais do que vivenciamos, seja como intérprete
ou simplesmente ouvinte e admirador. Um trabalho que tinha que ter a nossa cara
traduzida em música.
Dando continuidade ao que iniciamos com Identidade, nesse novo álbum pusemos
ainda mais as ‘mãos na massa’. Mais uma vez me envolvi nos bastidores cuidando
da co-direção do álbum ao lado do produtor argentino Sebastian Krys e do nosso
bom e velho amigo Otávio de Moraes. Trabalhamos com muita sintonia, num clima
bastante amistoso, o que considero primordial nesse tipo de projeto. Grande
parte do trabalho foi concebido nos Estados Unidos, mas posso garantir que o CD
é bem brasileiro, é pop-rock. Deixamos pra colocar voz em algumas músicas no
Brasil e algumas percussões também foram gravadas por aqui. Falando em
gravação, este foi o primeiro álbum em que toquei todas as baterias. Confesso
que ter começado a estudar música e a tocar com freqüência com a Soul Funk me
deixou muito mais preparado. Além de batera, gravei violão de algumas outras
faixas.
Quem ouvir o CD vai perceber que meus vocais estão mais presentes. É claro que
a voz principal da dupla ainda é a da Sandy – e continuará sendo, afinal, Sandy
é Sandy, né?! (rs). Além de estudar bateria e guitarra, fui fazer aula de
canto, me aperfeiçoar. Na hora de colocar vozes nas faixas, sentíamos quais se
adequavam mais a cada um de nós. Em ‘O Preço’ (composição do Frejat e Mauro
Santa Cecília) e ‘Dessa Vez’, por exemplo, minha voz tinha mais a ver com o
som. Falando em faixas, produzimos onze para o novo CD, uma delas totalmente
instrumental (‘Último’). Foi uma brincadeira bacana que acabou virando música.
‘Nas Mãos da Sorte’, ‘Você Não Banca meu Sim’ e ‘Dessa Vez’ são algumas das
minhas preferidas, confesso. A primeira, por exemplo, porque envolveu vários
aspectos que me agradaram: um rap do Gabriel O Pensador, participações mais do
que especiais de Milton Nascimento e Taboo (rapper do The Black Eyed Peas), uma
mistura de ritmos brasileiros com hip hop, com letra minha e da Sandy. É
bastante especial. Prova disso, todos os compositores desta faixa vão doar seus
direitos autorais para o Instituto Ayrton Senna. ‘Replay’ também é uma faixa
que curto bastante. Quando eu e a Sandy tivemos que sugerir uma música para ser
o primeiro single do CD, a resposta foi unânime. Tem um arranjo bacana e é uma
música inédita, feita por encomenda para esse CD por dois suecos (a Sandy fez a
versão em português). E falando da minha irmã de novo, ela ‘quebrou tudo’ nas
composições deste álbum. Sete das onze faixas são dela. Mas é claro que
‘Discutível Perfeição’ é ‘indiscutivelmente’ uma das mais comentadas. Sandy
mandou bem pra caramba na letra, em parceria com a Tati Parra. E não foi só na
letra, a gravação também ficou demais. Acho que no DVD bônus vai dar pra ver
alguns trechos, eu tocando bateria e Sandy colocando a voz. Produzimos algumas
imagens que vão expressar melhor o que tentei colocar no papel.
É. Trabalho pronto. Sensação de missão cumprida. E foi mesmo.
Fizemos no nosso tempo, ao nosso jeito. Tem mudanças? Sim, ficarão visíveis.
Espero que nosso público goste. Espero também que novas pessoas conheçam e
gostem. Espero que as pessoas ouçam nosso novo som sem ‘pré-conceitos’.
Junior Lima.
Campinas, abril de 2006.
Quando resolvi sentar pra escrever um pouco sobre este
novo álbum, confesso que rolou um flash back. Voltei por exemplo para o The
Warehouse Recording (nos EUA), um dos estúdios em que gravamos. Voltei para
vários cantos em que, por vezes, me sentei pra compor. Voltei ao piano. Voltei
ao lançamento do nosso álbum anterior, em outubro de 2003. Foram várias boas
lembranças. E aí, fica muito complicado saber o que não pode ficar de fora. Vou
tentar pontuar um pouco de tudo o que recordei.
Outubro de 2003. Mais de dois anos e meio se passaram desde que o Identidade
chegou às lojas. Nosso público fiel estava na expectativa por um ‘próximo’
disco. Eu também. Mas o novo trabalho tinha que rolar de forma cem por cento
natural, condição preestabelecida por mim e pelo Junior. E foi isso que
aconteceu. Desta vez trabalhamos sem a pressão de ‘temos que lançar no dia
tal’. Confesso que foi um passo vital para a concepção deste álbum, onde
pretendíamos mesclar nossa personalidade musical de forma bastante equilibrada.
Passei a compor sem a pressão de ter que gravar. E isso só me deixou ainda mais
tranqüila durante o processo criativo. Tudo rolou mais naturalmente. Foi leve,
prazeroso. Compus, por exemplo, minha primeira música ao piano. Comecei pela
melodia e, quando me dei conta, tinha a harmonia e a letra de ‘Tudo Pra Você’
prontas. Confesso que considero isso uma de minhas ‘ousadias’ neste novo
trabalho, afinal de contas, comecei a estudar piano só no ano passado. Para
aproveitar esse momento ‘composições’... Fazer a letra em português de
‘Replay’, nosso primeiro single,foi um processo bem diferente de ‘Tudo Pra
Você’. Ouvi a música em inglês, gostei muito do som e comecei a escrever. Foi
muito rápido, me veio uma inspiração enorme e, em meia hora, já estava tudo
pronto! Logo pensei ‘tem que estar no CD’! Já ‘Discutível Perfeição’ foi um
momento ‘desabafo’ em que resolvi esgotar alguns assuntos recorrentes à minha
pessoa. Demorei um pouco pra decidir se ela entraria no CD, pois tinha um tom
muito pessoal e eu fiquei em dúvida se me sentiria bem expondo tudo isso. Mas
resolvi encarar de frente e enfrentar qualquer comentário que pudesse surgir a
respeito.
‘Nas Mãos da Sorte’ também foi uma faixa importante. Meu irmão e eu fizemos a
composição lá nos Estados Unidos, junto com o Sebastian Krys e o Otávio de
Moraes (também produtores do álbum), quando já estávamos em estúdio. A
participação do Milton Nascimento e do Taboo do The Black Eyed Peas veio
acrescentar ainda mais ao resultado final. Confesso que é uma das minhas
músicas favoritas, ao lado de ‘Estranho Jeito de Amar’, por exemplo. E por
falar nela... ‘Estranho Jeito de Amar’ é um ótimo exemplo do quanto dei ênfase
na interpretação neste álbum. Foi um trabalho mais orgânico e inspirado, menos
preocupado com a técnica, quem ouvir irá notar. Há momentos românticos, alguns
mais rock’n roll, outros mais pop. Têm vários elementos brasileiros, inclusive
um pouco de samba. Está gostoso de ouvir em casa, no carro, na balada, com o
namorado, com a turma...
Agora, antes de terminar o texto, não posso deixar de revelar também o quanto
foi importante e seguro ter o álbum co-produzido e dirigido pelo Junior. Além
de ser meu irmão, de cantar comigo há quinze anos, ele tem muita sensibilidade
e um grande talento musical. Manda muito bem nos bastidores, tem jeito pra
coisa mesmo! Ao lado do Sebastian Krys e do Otávio de Moraes, ele arrasou na
produção musical. O álbum foi muito bem pensado, concebido e finalizado. Nós
dois escolhemos o repertório juntos, acompanhamos a pré-produção, toda a
gravação das bases, fizemos todos os vocais e acompanhamos a mixagem. Apesar de
eu não assinar a co-direção do CD, acompanhei e opinei em todo o processo ao
lado dele. Acredito que os quesitos ‘segurança’ e ‘confiança’ são uma via de
mão dupla entre nós dois. Pensamos diferente em alguns aspectos. Em outros,
somos totalmente idênticos. Isso nos torna cúmplices e, ao mesmo tempo,
complementares um do outro. E acredito que esta seja a principal receita para
estarmos, mais uma vez, lado a lado. Resultado? Nosso 15º álbum da carreira.
Estou feliz, realizada e muito a fim de fazer vários shows pra mostrar, ao
vivo, aquilo que produzimos dentro dos estúdios.
Sandy
Campinas, abril de 2006.
Créditos:
Universal Music
(Material Imprensa) / Clube DNA SJ / A Gente Dá Certo / Adap. A Gente Dá Certo