24 de dez. de 2018

Sandy se expande em cena no show 'Nós, Voz, Eles' e reitera o contínuo crescimento da artista

Por Mauro Ferreira, G1 
Mauro Ferreira / G1
 
Fez todo o sentido quando, no bis da primeira apresentação completa do show Nós, Voz, Eles na cidade do Rio de Janeiro (RJ), Sandy Leah disse, através dos versos da música Aquela dos 30 (Sandy Leah e Lucas Lima, 2012), que era "jovem para ser velha e velha para ser jovem"

Prodígio infantil do mercado fonográfico na década de 1990, revelada em dupla formada com o irmão Junior Lima, a cantora paulista adolesceu e cresceu em público. Em todos os sentidos.
Aos 35 anos, festejados em janeiro, Sandy explicitou esse crescimento artístico ao longo de 2018 através das conexões com artistas de outros universos e gerações – mote do projeto multimídia Nós, Voz, Eles

No palco da casa carioca KM Vantagens Hall, na qual Sandy não se apresentava desde que fazia dupla com Junior, a cantora mostrou a evolução como intérprete e como compositora, se expandindo em cena em apresentação coesa que expôs, de quebra, o toque entrosado da banda formada por Marinho Lima (bateria), Michel Cury (piano), Tiago Palone (baixo), Edu Tedeschi (guitarra e violão) e João Milliet (também na guitarra e no violão). 

Dos oito convidados do projeto Nós, Voz, Eles, somente o pai Xororó compareceu na noite de sábado, 22 de dezembro, para refazer ao vivo o terno dueto com a filha em Meu disfarce (Chico Roque e Carlos Colla, 1987), balada lançada há 31 anos nas vozes anasaladas da dupla sertaneja Chitãozinho & Xororó.
Sandy recebe o pai Xororó no show 'Nós, Voz, Eles' — Foto: Mauro Ferreira / G1Sandy recebe o pai Xororó no show 'Nós, Voz, Eles' — Foto: Mauro Ferreira / G1 
 
Os demais convidados – Anavitória, Iza, Lucas Lima (diretor musical do show), Maria Gadú, Mateus Asato, Melim e Thiaguinho – foram vistos e ouvidos virtualmente através de telão, sem prejuízo para a fluência do show. Tiago Iorc não participou do disco, mas também deu as caras no telão para cantar Me espera (Sandy Leah, Tiago Iorc e Lucas Lima, 2016), obra-prima do repertório da carreira solo de Sandy.

Ver e ouvir Sandy caindo com desenvoltura no swing pretensamente jazzístico dos arranjos das músicas No escuro (Sandy Leah e Lucas Lima, 2018) e Ponto final (Sandy Leah, Lucas Lima e Tati Bernardi, 2013) é a prova irrefutável da evolução da artista. 

À vontade no cenário-casa arquitetado por Zé Carratu, Sandy se movimentou bem cena. Para o público, que puxou espontaneamente sucessos da dupla Sandy & Junior como As quatro estações (Sandy Leah e Álvaro Socci, 1999) e Inesquecível (Incancellabile) (Giuseppe Carella, Fabrizio Baldoni, Gino De Stefani e Cheop, 1996, em versão em português de Claudio Rabello, 1997), Sandy será sempre a voz dos sonhos e hits adolescentes. 

A artista pareceu ter consciência disso ao longo da apresentação. Afagou o ego dos fãs, convocou um deles para ficar ao lado dela no palco, na interpretação de Tempo (Sandy Leah e Lucas Lima, 2010), e fez todo um jogo de cena para ser manter querida por esse público. 

Cego pelo brilho reluzente da estrela dessa cena, o público talvez nem tenha notado a marcação forte da bateria de Marinho Lima em Perdida e salva (Sandy Leah e Lucas Lima, 2010) ou o seguro toque da guitarra de João Milliet em Grito mudo (Sandy Leah, Lucas Lima e Daniel Lopes, 2018), desempenhando bem a função que, na gravação de estúdio, coube ao guitarrista Mateus Asato. 

Sandy afaga o ego dos fãs no show 'Nós, Voz, Eles' — Foto: Mauro Ferreira / G1Sandy afaga o ego dos fãs no show 'Nós, Voz, Eles' — Foto: Mauro Ferreira / G1
 
Justamente por ter o incondicional aval popular, Sandy nunca foi devidamente valorizada pela crítica musical, cujos ouvidos estiveram sempre desatentos aos sinais de beleza melódica emitidos por canções como Morada (Sandy Leah, Tati Bernardi e Lucas Lima, 2013). 
 
A propósito, dentro do arco pop em que gravita o projeto Nós, Voz, Eles, o repertório resultou de bom nível. O show confirmou a fluência pop de Pra me refazer (Sandy Leah, Lucas Lima, Ana Caetano, Vitória Falcão e Deco Martins, 2018) e Um dia bom, um dia besta (Sandy Leah, Lucas Lima e Juninho Bill, 2018), músicas gravadas por Sandy com a dupla Anavitória e com o cantor Thiaguinho, respectivamente. 

Enfim, Sandy cresceu. Mesmo que continue sendo eternamente adolescente no imaginário popular, a cantora que faz 36 anos em 28 de janeiro de 2019 soube usar a bela voz, de timbre sempre juvenil, para ir além, evidenciando na carreira solo uma obra autoral que foi sendo lapidada com o tempo.
E Sandy veio caminhando no próprio tempo, segura de cada passo, alheia ao fato de que o ardoroso séquito da artista – ele, sim, por vezes ainda aparentemente cristalizado em algum lugar do passado de Sandy & Junior – pareça se recusar a crescer e a envelhecer como a artista que idolatra com fervor inabalável. (Cotação: * * * *)
 
 — Foto: Editoria de Arte / G1— Foto: Editoria de Arte / G1