Em busca de afirmação de estilo próprio, Sandy rende melhor
quando se entrega ao pop sem firulas
“Eu lutei contra tudo. Eu fugi do que era seguro”. Ao ouvir isso, na voz de Sandy, não há como não associar diretamente à vida dela. Afinal, para quem tinha carreira consolidada ao lado do irmão, Júnior, abrir mão de tudo para iniciar carreira solo não deixa de ser uma fuga da antiga zona de conforto. A própria Sandy – como compositora – deixa isso claro em cada uma das faixas de Manuscrito ao vivo, o segundo disco desta nova etapa da carreira.
Lançado em CD e DVD, o álbum é o registro do show do primeiro trabalho. Manuscrito ao vivo pode ser dividido em duas partes: de um lado a intérprete e do outro a compositora. Beija eu (Marisa Monte, Arnaldo Antunes, Arto Lindsay), Hoje eu quero sair só, (Lenine, Mu Chebabi, Caxa Aragão) e Casa, de (Lulu Santos) estão no primeiro bloco.
Todas elas são tentativas da cantora de se encontrar em terreno alheio. O problema é que como os arranjos são muito parecidos com as versões originais, não sobra espaço para recriação. Sandy não consegue se apropriar das canções a ponto de imprimir algo pessoal em cada uma delas. Nem mesmo nos hits internacionais Put your records on (Corine Bailey Rae), Wonderwall (Noel Gallagher) e Black horse and the cherry tree (KT Tunstall), exclusivos do DVD.
Entre as participações especiais, Seu Jorge empresta suingue a Tão comum, parceria dela com o irmão e o marido, Lucas Lima. Lenine é o convidado de Sem jeito, e é assim que parece, também meio sem jeito para entoar a canção composta por Sandy e Lucas. A cantora britânica Nerina Pallot completa o time dividindo os vocais com Sandy em Dias iguais, além de acompanhá-la ao piano.
Em 21 anos de carreira, Sandy já mostrou que tem uma voz com qualidades, mas insiste em não explorar zonas diferenciadas. Se já era assim na época da dupla com o irmão, agora, em carreira solo, continua tímida e sem ousadia. Isso vale tanto para as regravações quanto para as canções de sua autoria. Pés descalsos, por exemplo, começa em um leve balanço de violão e logo ganha levada pop com o refrão: “Depois de tanto caminhar, depois de quase desistir, os mesmos pés cansados voltam para você”. Nenhuma surpresa na fórmula pop.
As músicas parecem dizer muito de Sandy. Temas como medo, sucesso, cobrança perpassam as letras. Nas entrevistas de bastidores que entremeiam o show do DVD, a moça também não esconde sua divisão. Ao mesmo tempo em que demonstra insegurança, dá pistas de que sabe o que quer. E nem tem tanta ambição nisso. Talvez o que Sandy mais almeja seja mostrar algo bastante básico: ela é bem mais comum do que os fãs podem supor.
Fonte: divirta-se