No
dia 18 de dezembro, Sandy & Junior se apresentam pela última vez
como dupla. Depois de dezessete anos de parceria e mais de 15 milhões de
discos vendidos, os irmãos decidirão, em 2008, o que fazer de suas
carreiras-solo. Junior parece inclinado a se manter na trilha da música
jovem. Enquanto isso, Sandy enfrenta alguns dilemas. Dúvida número 1
para o ano que vem: casar-se ou gravar um disco? Desde janeiro, a
cantora está noiva do músico Lucas Lima, e não descarta juntar os
trapinhos. Mas ela também está compondo, já tem três canções prontas.
Notoriamente obcecada por controle, a ponto de padecer desde a infância
de uma gastrite nervosa, não quer ficar por muito tempo numa zona de
indefinição profissional. E daí vem a dúvida número 2: qual nicho ocupar
no populoso universo das cantoras brasileiras? "Outro dia", conta ela,
"minha mãe perguntou: 'Filha, com quais cantoras você vai concorrer? Com
a Céu? A Marina de la Riva?'." Sandy não tem uma resposta pronta. Nos
últimos tempos, sente-se atraída pelo jazz e pelas vertentes
tradicionais da MPB. Mas sabe que é preciso combinar o gosto pessoal a
uma estratégia consistente de carreira. Sandy tem muito a seu favor. Com
meros 24 anos, é uma artista veterana. Em suas próprias palavras,
pertence à era do vinil, enquanto colegas da mesma idade pularam a era
do CD para estrear diretamente na do iTunes. Também não será sua
primeira mudança de roupagem. Ela e o irmão despontaram em 1991,
esgoelando-se na música caipira, e se despedem como astros da música
pop. Seu desafio é de outra ordem. Ao entoar alguns dos clássicos pelos
quais se apaixonou, em shows de experiência feitos nos últimos anos,
Sandy mostrou que comete erros crassos, como cantar as doloridas Retrato
em Branco e Preto e Cry Me a River com um sorriso nos lábios.
Falta-lhe, enfim, transformar-se numa intérprete de verdade.Algumas
intérpretes são movidas pelo instinto, outras por uma compreensão
"técnica" daquilo que cantam. Sandy não é, definitivamente, do primeiro
time – o time, digamos, de Elis Regina. Poucas coisas a deixam mais
enfadada do que a fama de menina certinha que a acompanha há anos. Aluna
de um curso de letras na universidade, ela recorre ao vocabulário da
crítica literária para se descrever como personalidade: "Gente, eu não
sou plana, eu sou esférica". Tudo bem. Mas essa esfera está longe de
abrigar um espírito naturalmente turbulento. Sandy também não teve
razões biográficas para tornar-se rebelde. Quando nasceu, seu pai, o
cantor sertanejo Xororó, já fazia sucesso. "Nós éramos de classe média",
diz. Ela estudou em boas escolas, morou em casas confortáveis – e então
começou a ganhar o próprio dinheiro. Estima-se que seu patrimônio
pessoal seja de 30 milhões de reais, geridos de maneira cautelosa. Ela
não sente culpa por ser rica num país de pobres, mas tampouco esbanja.
Tem até uma certa fama de pão-dura. "Pão-dura não. Sou controlada",
afirma. Uma palavra que a define bem, não só no campo financeiro. Também
na música Sandy é controlada. Sabe que para evoluir precisa filiar-se à
escola das cantoras "técnicas". Sua jazzista predileta é a americana
Ella Fitzgerald. "Ela tinha um canto muito preciso", diz.
No
quesito precisão, Sandy não é das piores. Sua voz é pequena, porém
afinada de uma maneira que divas da "nova MPB", como Vanessa da Mata,
jamais sonharão em ter. Nos últimos tempos, abandonou seu pior vício, os
trinados agudíssimos que herdou do sertanejo (com todo o respeito a
papai, Sandy confessa que hoje em dia não tolera muito esse gênero de
música). Ela canta até dois tons abaixo de seu registro anterior. "Não
tenho mais vontade de gritar", diz. Esse tipo de abordagem pode levar a
um show frio, contido demais. O trunfo de Sandy é sua longa experiência.
"Quando eu tinha 13 anos, ia cantar em festas de rodeio e ouvia
barbaridades do público masculino. Não tem muita coisa que me assuste no
palco", afirma ela. Do currículo da artista constam várias
apresentações para mais de 100 000 fãs, e uma para 250 000 pessoas no
Rock in Rio de 2001. Isso significa traquejo não só para lidar com
platéias dispersas ou mal-educadas, mas também para se equilibrar entre
números românticos e animados. Talvez o maior legado de seus tempos de
estrela adolescente, encantada com Celine Dion e Mariah Carey, seja a
certeza de que um show precisa entreter, ser espetáculo. "Existe uma
certa cultura na música brasileira de que tudo tem de ser pequenininho. É
uma coisa humilde, minimalista. Eu não acho que tudo tem de ser
pequeno. Não quero voltar a ser a Celine Dion, mas também não pretendo
ser a Sandy bossa-nova", diz ela.Às vésperas de anunciarem a gravação do
Acústico MTV e, posteriormente, a dissolução da dupla, Sandy &
Junior renovaram contrato com a gravadora Universal. O álbum ao vivo
seria o primeiro de três discos a ser lançados pela companhia. Há boas
chances de que os contratos das carreiras-solo sejam renegociados com a
mesma gravadora. O novo vínculo não traria muitas diferenças em relação
ao atual. Fazia tempo que Sandy & Junior tinham carta-branca para
gravar o que quisessem, com os produtores de sua preferência. É o tipo
de liberdade concedida apenas a artistas com uma base de fãs muito
sólida – como Marisa Monte, que Sandy elogia. "Marisa sabe o que tem de
fazer para se posicionar no mercado. Canta bem, compõe bem, tem uma
pureza para compor que não é boba, mas sofisticada. Fui ao último show
dela e fiquei bem impressionada", diz. Vinda de outra cantora de 24
anos, essa avaliação teria um toque de reverência. Não é o caso com
Sandy. "O que eu e o Junior fizemos é único no cenário brasileiro. Eu
tenho certeza disso", afirma a cantora. A ver se, como hoje falam de
Marisa Monte, no futuro falarão de uma escola Sandy de interpretação.
FONTE:VEJA
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