24 de jun. de 2007

Entrevista na Integra : Galpão Fantástico com Sandy e Junior

Zeca: Galpão Fantástico de hoje em clima de despedida, mas a gente fala despedida parece uma coisa triste, melancólica. Aqui não tem nem um pouco disso, pelo contrário. A gente pode falar, Júnior, Sandy, que a gente tá comemorando um recomeço, melhor dizer assim?

Sandy: Melhor dizer assim.
Zeca: Não é despedida de nada, não é, Júnior?

Sandy: É um encerramento de um ciclo.



Júnior: É uma transição.



Zeca: Perfeito. E isso é uma coisa inevitável de perguntar: Vocês já pensaram que ia acontecer um dia?



Sandy: Ah, a gente não encarava muito essa possibilidade assim, não encarava muito de frente isso. Mas de uns tempos pra cá parece que as coisas foram levando a gente a tomar essa decisão. E foi um processo interno, que aconteceu ao mesmo tempo com os dois sabe?



Zeca: Tinha que ser?



Sandy: Tinha que ser.



Júnior: Irmão tem muito disso, de conversar pelo olhar. Nessa situação foi isso, a gente se olhou, discutindo os rumos da carreira e olhou e tudo já estava ali.



Zeca: É bom falar que você pensa justamente porque é irmão, de repente vocês estão lá, numa jam, e de repente começou a rolar um clima. ‘Essa música não’, ‘Não, eu não quero essa’, ‘Quer saber, vamos cada um pra um lado’. Nada disso...



Júnior: Não foi nada disso, esse clima bem... É engraçado, porque o mesmo momento chegou pros dois ao mesmo tempo.



Sandy: Porque antes eu não considerava assim de maneira nenhuma nessa possibilidade. Eu não pensava e falava nas entrevistas, as pessoas perguntam: você pensam em se separar algum dia? Eu: ‘não, nunca!’



Zeca: Até porque, vamos combinar, que é uma referência forte na família de uma dupla que não se separa há anos, né?



Sandy: É, é verdade.



Zeca: Eles estão com quantos anos de carreira?



Sandy: 36, sabem lá.



Zeca: Eu diria que é uma leve inspiração. Não é isso que prendeu vocês?



Sandy e Júnior: Não.



Júnior: Não, a gente gosta muito de trabalhar junto. A gente não está parando o nosso trabalho em dupla por qualquer stress, ou qualquer coisa assim. A gente gosta muito de estar junto, a gente se dá muito bem músicalmente, mas chegou aquele momento que cada um precisa de novos desafios, a gente já fez de tudo, né?



Sandy: Em 17 anos, imagina o tanto de coisas que a gente já fez, faz falta um tanto de coisas a fazer e junto parece que é mais difícil de encontrar outra coisa nova, outra coisa diferente pra fazer, desafiadora.



Zeca: E falando outro dia de relação, relação mais de casal, você precisa de ar pra ela durar. Vocês estão precisando de ar?



Sandy: Exatamente. Porque é um casamento de irmãos, né?



Zeca: Não deixa de ser. Um casamento de carreira, casamento artístico nesse sentido.



Júnior: Além de a gente ser irmãos, a gente está trabalhando junto há quase 17 anos.



Sandy: Uma parceria eterna. Mas a gente vai ser sempre parceiro.



Zeca: Eu tenho certeza disso, eu só quero ver quem lançar disco primeiro, que é claro que vocês não têm esse plano ainda, o outro vai querer participar mesmo que seja com uma palhinha.



Júnior: Mas você sabe que eu já comecei falar: ‘Olha, essas composições aí têm mais a minha cara do que a sua’. (risos)



Zeca: Vai pintar um outro ciúme. (risos)



Sandy: Isso porque eu componho músicas mais com a cara dele do que com a minha, do que eu imagino pros meus projetos no futuro, eu não me imagino cantando esse tipo de música que eu componho hoje, aí eu dou pra ele. (risos)



Júnior: Vai rolando um intercâmbio, entendeu?



Zeca: Antes de falar do futuro, já vamos falar dele. Depois de uma relação tão intensa, vocês detectaram a necessidade de respirar um pouquinho, vai ter um descanso pra vocês, vocês acham que agora não vou pensar em música nos próximos seis meses?



Sandy: Ah, eu acho que eu preciso descansar um pouco pra esfriar a cabeça e deixar coisas novas entrarem. Primeiro, esvaziar pra depois colocar outras coisas de novo, e começar a idealizar meu próximo projeto, acho que eu ficar um pouco parada, na verdade eu fico parada de fazer show e tal, mas planejando.



Zeca: É esse respiro justamente que a gente está falando.



Júnior: Isso também vai ser super legal, porque ela vai conseguir. Ela está numa fase meio punk da faculdade. Isso vai ser legal, porque ela vai conseguir se dedicar. O que eu tenho pensado é de ter também esse respiro de alguns meses só pra... Agora a gente tá muito dedicado, a gente gravou ontem o acústico e a gente então vai se dedicar, vai ter essa turnê aí...



Zeca: Em cima do acústico?



Sandy e Júnior: Em cima do acústico.



Júnior: Quando acabar esse projeto quero fazer uma viagenzinha de um mês, mochilão, tá ligado, pra dar aquela...



Zeca: Isso porque ele está dando a entrevista com o violão no colo, ele não larga! (risos)



Sandy: Ele vai viajar, mas ele leva o violão.



Zeca: Eu tenho certeza... (risos)



Júnior: Eu tenho um violãozinho pequenininho. Ele tem um braço normal, parece um cavaquinho, pra poder levar em viagem.



Sandy: Já eu não posso levar meu piano pra lugar nenhum, né? É injusto!



Zeca: Mas aí você pode chegar num lugar e pegar emprestado. Você é capaz de gravar alguma coisa, nem que seja um rascunho, você leva um computador também, você esboça alguma coisa ali?



Júnior: Sempre, direto. De madrugada, cara. Não, cara, lá em casa o meu quarto, eu tenho um estudiozinho emendado no meu quarto, então eu abro uma porta e eu tô dentro do meu estúdio. Aí de madrugada, às vezes rola, não consigo dormir, aí começa a vir uma frasezinha na cabeça.



Sandy: Eu sempre vejo os resultados da insônia dele.



Júnior: Aí eu vou pro estúdio, abro a porta e começo... Teclado, violão e gravo. É isso aí...



Sandy: Já eu carrego o meu caderno de poesia pra onde eu vou, porque quando vem a inspiração não dá...



Zeca: É bem mais fácil, é só pegar um caderno...



Júnior: Caneta é mais prática do que computador. Pro tools, abre...



Zeca: Agora, esse espaço que vocês vão ter, eu acho que a gente pode derrubar alguns rumores aí, não é exatamente pra pensar em outras coisas que não sejam música. Quando vocês vêem o caminho é de música?



Sandy: É de música. As pessoas ainda brincam, Sandy e Júnior acabou. Não acabou, a gente só vai acabar a parceria em dupla, trabalho em dupla, mas a gente vai continuar produzindo muita coisa.



Júnior: Sandy e o Júnior vão continuar.



Sandy: Por favor, minha vida é música.



Zeca: Quando eu perguntei isso... Mas quando você pensa, agora eu tenho um caminho, não preciso estar ligado ao meu irmão ou irmã, eu posso pensar em outras coisas, talvez só em poesia, literatura, posso fazer só aventura. Bom, a música é o caminho.



Sandy: A música é o caminho.



Júnior: É o que sei fazer, se não eu vou passar fome. Eu tenho uma ligação muito grande com música, eu não consigo... Qualquer momento... Se você me pegar durante o dia e você chegar "o que você está pensando?" "Qual música que é?". Vai ter uma música aqui dentro.



Sandy: Às vezes eu não durmo com uma música martelando na minha cabeça, muito engraçado.



Zeca: Uma música nova?



Sandy: Não, alguma música que já existe. Também vem uma inspiração na hora de dormir é uma hora muito boa pra compor. Eu sempre componho só de madrugada.



Júnior: Sabe qual é a pior parte disso? Quando você acorda durante a noite, pra ir no banheiro, tomar uma água. Aí é aquela acordadinha que você quer voltar pra cama, você nem abriu o olho direito, aí vem uma idéia de composição na cabeça, aí você fala: ‘por que agora?’ (risos) Eu quero dormir! Várias músicas eu perdi... ‘Bora vou dormir’!



Zeca: Vamos combinar, é uma boa maldição. Como motivo de insônia não pode ter nada melhor. E o que vai fazer mais falta, quando vocês... De repente, quando você estiver no estúdio vai sentir a falta dela, o que vai fazer mais falta?



Sandy: Ah, sei lá. Eu acho que talvez o mais difícil vai ser no palco. Porque tem muitas coisas que a gente já faz individualmente. Por exemplo, a gravação, a gravação de um disco, cada um grava de uma vez e o outro acompanha, ou não, né? Normalmente ele produz os CDs e tal, então tá sempre lá, e pode continuar acontecendo isso, eu posso gravar meu disco e ele tá lá, e mesmo o vice-versa também. Mas acho que na hora do palco, na hora que a gente ta no palco, eu vou sentir muita falta. Eu já passei por isso, já fiz show solo, tenho projeto solo já há algum tempo, e é estranho sabia? É legal, é bacana, eu me divirto, eu curto, mas eu sinto uma falta pra caramba dele.



Zeca: Sandy abriu o jogo... Qual é a tua?



Júnior: Eu tenho uma banda paralela também já há quase três anos, dois anos e meio, um pouco mais. E vou falar que o primeiro ano inteiro foi subir no palco e nossa! Sabe você estranhar o som, estranhar tudo? Hoje depois de três anos você acostuma, naquele ambiente eu estou super acostumado, mas em qualquer outra situação de palco sozinho eu também sinto falta pra caramba.



Zeca: Mas você não falaram uma palavra que eu tenho certeza que vai fazer falta, que é a cumplicidade. Antes de começar a gente estava aqui comentando e tal, "Isso aí não, não menos vai..." Isso aí é uma cumplicidade que 17 anos você constrói muita coisa.



Sandy: Noosssa... A gente já adivinha o que o outro está pensando. É muito engraçado. Esses dias a gente tava lá na gravação do acústico e o Paul, que era o outro produtor que trabalhou com ele, falou assim: ‘Sandy, nessa hora canta mais retinho, faz menos firula, porque seu irmão vai fazer uma oitava abaixo de você e ele precisa cantar igual a você’. Aí ele falou assim: ‘Não, tudo bem, ela pode fazer a firula que ela quiser que eu acompanho, eu adivinho!!’ (risos)



Júnior: Cara, é muito engraçado, porque a gente toca direto ao vivo, sempre. E chega um momento da música, às vezes eu tô dobrando, a gente tem que dobrar a voz, a gente abre a oitava diferente.



Zeca: Não entendi nada mas eu confio em você!



Júnior: É a mesma nota só que em regiões diferentes. Uma mais aguda, outro mais grave. Às vezes a gente dobra assim, aí o ideal é ficar juntinho. Normalmente as pessoas falam: ‘Ó, vamos estabelecer qual vai ser a interpretação’. A gente tipo faz assim porque eu sempre sei o que ela vai fazer. É muito engraçado! Parece irmão gêmeo.



Zeca: Falamos da separação do lado artístico, mas eu tenho certeza que tem uma separação de dois irmãos aí também, que vocês vão sentir um pouco de falta ou não?



Sandy: Ah, muito. De estar junto, viajar junto, de estar na estrada.



Júnior: Principalmente no palco é uma coisa óbvia, mas o caminho até o palco também.



Sandy: A gente fica mais tempo pra chegar até lá, pra ensaiar, passa som, se arrumar, atender gente no camarim, tudo que envolve demora tanto mais do que o estar no palco.



Zeca: E um está sempre fazendo companhia pro outro ou estava.



Sandy: Sempre.



Júnior: Por exemplo, eu tô tão acostumado com o tempo da Sandy de camarim, pra se arrumar ela tem toda uma logística dela de...



Sandy: Eu tenho que comer 1h30 antes pra fazer digestão, tem todo o meu tempinho...



Júnior: Aí quando eu for fazer um projeto independente, algum projeto sozinho, eu estranho tanto, porque aí você chega e o camarim já está lotado de gente, aí tem neguinho fazendo num sei o quê... É outra coisa... (risos). Tipo na geladeira tem outras coisas. O que está acontecendo?



Zeca: Mas e mesmo no companheirismo de sempre, de repente às vezes por um cansaço, ou por uma expectativa, vocês contam muito um com o outro pra desabafar, por exemplo.



Sandy: A gente é super cúmplice.



Júnior: Depois do show a gente conversa, ‘Ah, o que você achou daquela hora?’ Sempre tem... O pós show também existe, porque o show é uma adrenalina muito grande e quando acaba, você descarrega, aí poder descarregar junto, sabe?



Sandy: Ah, eu vou acompanhar meu irmão sempre nos projetos dele, nas viagens e ele também acho que vai me acompanhar.



Zeca: Pelo menos por um período pra vocês se acostumarem.



Júnior: A Sandy foi fazer uns shows do projeto Garage Jazz. Nos primeiros eu fui.. Eu fui não fazer nada, ajudar.



Sandy: Ele foi nos primeiros.



Zeca: Muito bem, ajuda ele, coitadinho, se não ele não agüenta. Você sabe que você agüenta mais do que ele?



Júnior: Coração velho. (risos)



Sandy: Ah, mas, por exemplo, em casa a gente mora na mesma casa, tá tudo certo.



Zeca: Vocês vão continuar morando na mesma casa, por um tempo pelo menos, claro?



Júnior: É, eu tava discutindo isso com a minha terapeuta... E foi uma conclusão que eu cheguei junto com ela: acaba realçando... Essa história acaba realçando de parar o nosso trabalho em dupla, vai acabar realçando o nosso relacionamento como irmão. A gente vai passar a ser mais irmão do que a gente é. Porque a gente teve uma fase que a gente tava muito profissional, a gente só falava de trabalho e hoje em dia a gente já tá mais irmão.



Zeca: Vocês podem contar por um problema mais pessoal, prum desabafo, mais ainda né?



Sandy: Mais ainda, a gente não vai tá o tempo todo trabalhando junto, então na hora que tiver junto vai ter uma qualidade diferente, de irmão assim.



Júnior: Mais puramente amoroso.



Zeca: Sua terapeuta aprovou?



Júnior: Mas você tá numa fase muito boa...



Zeca: Eles ganham pra falar isso... Isso não vale.



Zeca: E a outra parceria, que é a própria artística? Vocês vão continuar a compor juntos provavelmente?



Sandy: Ah, vamos, provavelmente.



Zeca: Então vamos lembrar lá do comecinho, da primeira composição?



Sandy: Ah, vamos! Primeira que a gente gravou que foi no CD de 2001.



Zeca: Foi a primeira vez que vocês fizeram uma música juntos. Que é?



Sandy: “Não dá pra não pensar”.



Sandy: Sabe que show pra pouca gente é mais difícil.



Zeca: O que vocês preferem?



Sandy: Não, eu prefiro milhões.



Júnior: Você olhar longe.



Zeca: Ver todo mundo na verdade é não ver ninguém, então você fica mais ali...



Sandy: Você fica mais à vontade.



Júnior: Agora, rodinha de amigos, sei lá, 10 pessoas te olhando...



Zeca: ‘Pô, eu fiquei nervoso’. ‘Pô, eu não posso por esses caras nervosos’.



Sandy: Botar eles nessa situação... Esse é o arranjo do acústico, só que com um violão só. Lá tem um monte.



Zeca: Vocês não precisam provar mais nada pra ninguém? Não é bom músico?



Sandy: Eu acho (risos)



Zeca: É boa cantora, boa compositora, vocês acham que ainda têm que provar alguma coisa pra alguém?



Sandy: Espero que não.



Júnior: Pra mim eu sempre preciso provar muitas coisas ainda.



Sandy: Sabe que isso é ... Falando sério agora, acho que isso é um processo que não acaba. Busco sempre melhorar, é o meu objetivo sempre na vida, meta da minha vida, é sempre me aprimorar nas coisas, conseguir fazer melhor aquilo.



Zeca: Todo mundo fala: ‘Sandy é super cantora e tal’, ‘tá lindo’. Não tá bom?



Sandy: Tá bom, mas a gente nunca pode estar satisfeito também se não a gente vai ficar se sentindo: ‘Ah eu sou muito bom’ (risos) .



Júnior: E aí começa a ficar ruim, quando você começa a achar que tá bom...



Zeca: Aí é pra baixo.



Sandy: Exatamente. Porque aí você começa a confiar muito. ‘Ah, qualquer coisa que eu fizer tá bom’. Aí não tá não.



Zeca: Até com você, eu converso mais com esse cara aqui, porque a gente tem muito assunto junto, eu sei que você é um inquieto musicalmente. Você não sossega, né? Graças a Deus, né? Onde você procura, pra onde você vai?



Júnior: O bom do músico é que você convive com muito músico. Sempre tem alguma coisa pra passar um pro outro. Sempre tem algum som pra indicar: ‘Ah, ouve isso aqui, ouve isso aqui’. Eu sempre anoto e vou buscar. Vou em loja, vou na internet, pra procurar onde tem o CD, já compro. Eu não gosto de baixar música não. Gosto de ter o CD.



Zeca: Eu sou do tempo que eu compro música.



Sandy: Eu até copio pro meu mp3 player, mas do meu CD.



Júnior: Eu acho que hoje em dia a internet é pra divulgar mesmo o trabalho, não tem nem muito como controlar isso, mas eu tenho uma coisa de ter o CD, de olhar.



Sandy: Ver quem fez, ver a capa... É muito legal.



Zeca: Consegue imaginar um dia que não vai ter capa de disco?



Sandy: Ah, pelo amor de Deus, não tem capa, não tem graça nenhuma, poxa...



Júnior: Aí, então, eu busco muito disso assim, de conversar com os amigos que estão no meio, que entendem.



Zeca: Vamos combinar que há essa altura vocês podem conversar com quem vocês quiserem. Eu vou brincar melhor. Vocês estão indo pra carreira solo, eu acho que vocês têm condição de pedir pra trabalhar com qualquer pessoa, eles vão querer trabalhar com vocês.



Sandy: Ah, a gente teve um experiência muito boa, assim nesse último projeto, porque foi incrível, as pessoas que a gente convidou, a única que a gente sabia que talvez fosse topar mesmo, que é nossa amiga de muito tempo e tal era a Ivete, né?



Zeca: A Ivete não vale! É aquela farra, é aquela coisa. Mas outros que vocês tinham duvida?



Sandy: A gente ficou assim, será que o Marcelo Camelo vai topar? O cara é rock´n´roll, MPB.



Júnior: E tem todo um trabalho mais conceitual, mais MPB, será que o cara vai ter preconceito? Porque a gente já sofreu muito preconceito. Por música pop, por ter começado criança, começado tocando música sertaneja, A gente sofre preconceito direto, até hoje.



Zeca: Do que eu conheço do Marcelo, ele sobretudo é um músico, mas ele deve ter aceitado, por causa da música de vocês!



Sandy: É, ele falou que gosta da nossa música.



Júnior: Não só gosta como aquela música assim, que tem uma letra assim.



Sandy: Ele escolheu a música que ele queria cantar, sabe, foi ótimo. O Lulu Santos, um querido também, topou na hora o convite, eu falei na hora no celular.



Zeca: O cara mais eclético que tem. Topa tudo, é maravilhoso. O que me leva a pensar que eu acho que o preconceito tá na cabeça de vocês! Cadê sua terapeuta pra me ajudar?



Júnior: Não, isso não é um pré-conceito, isso é um pós-conceito. Hoje diminuiu muito, mas a gente já passou bastante por isso, então você vai ficando meio que com um pé atrás. E a gente vê que na verdade isso já acabou muito.



Sandy: É, nosso último CD foi muito bem, inclusive pela crítica. A gente tá numa fase boa, tô super feliz. Tô contente, já era.



*********



Sandy: As músicas não são nada autobiográficas, algumas até são, mas a maioria não.



Júnior: Uma música inédita que a gente gravou nesse acústico que é uma composição minha, eu comecei a letra pensando numa situação de amor também assim, pensando num casal e tal só que eu deixei um papo meio aberto, não fala especificamente de uma coisa. Eu gosto de fazer letra assim, que fica em aberto a interpretações diferentes e tal.



Zeca: Eu brinco que 90% é de amor, tem uns 10% que dá pra falar de outras coisas, né?



Júnior: É, e essa música como eu deixei em aberto pra interpretação mesmo, no futuro acabou pintando essa história da gente, da separação da dupla e tal e hoje em dia a letra se encaixa muito com a nossa história.



Zeca: Tem vários fãs em vários blogs que vão querer encontrar um significado nessa letra. Vocês já estão um pouco acostumados com isso, vocês já estão de certa maneira reféns da opinião deles.



Zeca: Mas isso do preconceito que a gente falava, essa música é tão legal, que poderia ter o Ben Harper à toa. Por que não? Por que ninguém olha, porque ninguém escuta com esse olhar?



Júnior: Eu acho que música as pessoas analisam por quem toca, não pela música em si. Se você pegar aquela música que todo mundo critica e dá pro Caetano Veloso cantar, vira cult. Eu adoro o Caetano, na verdade é quem toca a música que vai dar o tom da música.



Zeca: Mas acho que é o maior desafio e vocês, vocês têm 17 pra tentar, não mudar, tentar partir pra outra, as referências, vocês têm fãs que cresceram junto com vocês, e eles talvez lembrem do Sandy e Júnior de 14 anos atrás, 13 anos...



Sandy: Eles lembram do Sandy e Júnior da Maria Chiquinha.



Júnior: Que seja de cinco ou quatro anos atrás que é completamente diferente de hoje em dia.



Zeca: Mas também vocês têm que achar que tem gente que vai ouvir esse disco agora, ou quem sabe, o primeiro trabalho de vocês e vai falar, pô, essa menina canta direitinho, esse cara é legal.



Júnior: Mas é muito legal porque as pessoas se desprendem desse preconceito, não diria preconceito no sentido negativo, às vezes, um conceito antigo.



Zeca: Um pré-julgamento.



Júnior: É uma imagem antiga que ficou na cabeça e a pessoa demorou pra atualizar. Aí elas vão ver nossos projetos independentes, minha banda lá que toco, a Soulfunk, ou o projeto da Sandy de jazz, quando eles vão ver a gente sozinho, eles falam: ‘Nossa! Não sabia que você tocava desse jeito’.



Zeca: Vamos combinar que não é muito diferente do que vocês têm feito ultimamente. Mas é o preconceito, e vale pra mim, você não pensa: ‘Você não é o cara que entrevista o Green Day, o que você vai fazer entrevistando Sandy e Júnior?’ Não, porque são músicos e são legais. Mas tudo isso acabou, isso não importa pra vocês, importa muito pouco.



Sandy: Tanto é que a gente tá aí. A gente passou por essa fase de preconceito e a gente não estava aí. Agora que o preconceito já diminuiu muito e já tá muito tranqüilo e as pessoas já ouvem com a cabeça mais aberta a nossa música e tal, agora que a gente resolveu parar a gente não se deixou levar por isso, sabe.



Júnior: Eu já tive uma fase que eu fiquei um pouco encanado com essa história, eu ficava meio... E agora, eu queria que as pessoas gostassem do meu som, parasse de me enxergar como moleque, como criança, ver que eu tô tocando. Hoje em dia, eu tô tipo: ‘Meu, quer gostar, gosta, não quer, foi um prazer’. Aí eu acho que a hora que você desencana disso, tudo realmente diminui.



Zeca: Esse cara tá fazendo terapia (risos).



Zeca: Mas sobretudo, acho que o ar, do espaço, a gente falou todo tempo do ar, vocês vão poder experimentar um pouco mais. Não é à toa que vocês tão falando da sua banda, não é à toa que vocês estão falando de jazz. Esses são caminhos definidos na cabeça de vocês?



Sandy: Não, pra mim não é assim. Eu gosto muito do jazz, adoro, mas acho que tem que ser mais como um projeto paralelo, que eu tenho, levo minha banda de jazz por aí...



Zeca: E tem o pop aí sério também.



Sandy: Agora na hora de fazer o meu trabalho solo, acho que eu tenho que pensar em alguma coisa que caiba dentro do cenário brasileiro melhor, exatamente porque eu vou pensar alguma coisa bem consistente, que seja a minha carreira que vai me sustentar depois sabe?



Zeca: Não vai viver de royalty a vida inteira (risos)



Sandy: Então eu tenho que pensar em alguma coisa muito bacana, que eu gosto de fazer que seja a minha cara, a minha identidade, a minha personalidade, mas que também se encaixe no cenário brasileiro, né? E o jazz é muito legal, adoro, amo, gosto de levar pras pessoas.



Zeca: Até porque você leva uma coisa até que é meio cult, meio elite como é a Sandy cantando, você pode cantar pra um publico maior.



Sandy: Exatamente, foi isso que aconteceu um pouco nesse projeto, que pude levar pra alguns lugares pra outras pessoas que nunca tinham ouvido se interessaram, foi legal.

Júnior: Vou falar: tem uns shows que eu acompanhei e você via que tinham muitas pessoas que estavam ali pra ver a Sandy, não pra ouvir jazz. E vinha uma molecada, o pessoal de 20 e poucos anos, E o pessoal falando: ‘Nossa, olha esse som’. Eu escutei uma menina falando: ‘Esse som, que louco!’.



Zeca: Esse é o famoso cross-over.



Júnior: Exatamente, você usar o nome da música pop, a visibilidade que tem, da grandiosidade que existe na música pop, pra falar de um som que acabou ficando restrito a uma galera mais que.... Acho isso muito interessante.



Zeca: Uma conquista ali acho que vocês tem o poder de fazer isso.



Júnior: Acho que é meio que uma obrigação do artista também. Sabe? Ampliar a cabeça das pessoas mostrar outros sons, variar.



Zeca: Tá disfarçando: e a tua banda? Ali é o caminho?



Júnior: Ali é o caminho, é muito gostoso. Eu diria que eu... Por exemplo, a gente tá há um mês e pouco ralando que nem uns loucos com esse acústico. Ontem a gente acabou de gravar meia noite e pouco, foram quatro horas de show seguido tocando e fora a passagem de som que a gente vem vindo de alucinação. Mas essa última semana foi a pior, né?



Sandy: Ou a melhor, né?



Júnior: Mas assim, ralação total. Quando acabou, eu fui pro meu camarim, troquei de roupa, peguei minha mochila, falei: ‘Galera, fui tocar’. E parei de tocar 3h40 da manhã.



Zeca: Mas tinha um outro barato ali, claro.



Júnior: Mas é outro som, e é uma diversão absurda. Foi muito legal, ontem teve canja do Marcelo Camelo, do Lulu Santos, do George Israel e do Max de Castro. Todo mundo em cima do palco, você imagina.



Zeca: Sobretudo, que a gente falou desde o começo de ter ar, de ter espaço, vai permitir vocês qualquer que seja esse caminho experimentar.



Sandy: Exatamente.



Júnior: Que bom, né?



Zeca: Mas vamos brincar de experimentar com o que já existe: tem alguma música que agora no acústico nem parece que é uma música conhecida, vocês mudaram radicalmente?



Sandy: Tem várias, tem músicas irreconhecíveis. A gente pode fazer...



Júnior: Só completando, pra encerrar, a gente vai fazer essa turnê desse acústico, a gente vai viajar pelas principais capitais, a gente deve fazer em quatro meses, que é o prazo que a gente tá fazendo turnê. Pela primeira vez a gente vai fazer uma turnê fechada, né? Quatro meses de 40 shows.



Zeca: O que é turnê fechada?



Sandy: Uma turnê com começo, com data pra começar, e data pra acabar.



Júnior: Começo, meio e fim, todos os shows já marcados, porque normalmente no Brasil não funciona muito assim, vai fazendo, marcam, a gente vai. Agora a gente vai fechar um pacotão assim e sair fazendo, a gente está fechando já.



Sandy: Então, Brasil, nos aguarde! A gente vai passar por aí!



Júnior: Vai ser uma bela de uma despedida deliciosa, meu!



Zeca: Uma despedida de recomeço.

Sandy: De recomeço, exatamente.