12 de dez. de 2006

Sandy clássica

Ele é um dos mais respeitados e talentosos pianistas brasileiros. Radicado por muito anos em Londres, sempre se caracterizou pela ousadia e por passear tranqüilamente pela fronteira entre a música popular e erudita. Já misturou em um mesmo programa de concerto a música vanguardista do erudito austríaco Anton Webern e o choro do brasileiro Ernesto Nazareth.

Ela é uma das cantoras mais populares do Brasil. Com o irmão, formou uma dupla que arrebanhou milhões de fãs incondicionais. Suas canções românticas e de temática adolescente já fizeram com que os dois vendessem mais de 15 milhões de cópias de seus 16 discos. É cantora desde criança e cresceu com a fama de ser boa menina, comportadinha. Nos últimos anos, decidiu mudar sua imagem, escrevendo músicas mais rebeldes para conquistar o público que cresceu junto com ela. Não funcionou muito, ela ainda é vista como boa moça, mas o sucesso continua andando bem ao lado dela.

Marcelo Bratke e Sandy parecem viver em mundos completamente opostos, com pouca coisa em comum. Mas essas diferenças vão ficar muito mais tênues nesta quinta-feira, quando os dois se encontram no palco no moderníssimo Auditório do Ibirapuera para um concerto que traz no cardápio nomes da musica brasileira e internacional como George e Ira Gershwin, Cole Porter, Villa-Lobos e Claudio Santoro.

'Faz uns oito anos que eu planejava um concerto com uma cantora popular acompanhada do piano. Observei muito tempo várias artistas da MPB e decidi convidar a Sandy', comenta Bratke.

Por que Sandy?

Mas, com tantas opções, por que justamente ela? 'Escolhi a Sandy por diversos motivos: primeiro, porque é muito afinada. Além disso, ela tem um timbre de voz muito interessante. Quando ela interpreta It's Wonderful, de Gershwin, a sensação que dá é que estamos na Broadway na década de 1930', elogia Bratke, que também destaque a pronúncia sem sotaques de Sandy em inglês.

Para a apresentação desta quinta, Bratke selecionou um repertório que passeia livremente entre o popular e o erudito na cultura brasileira e norte-americana.

No primeiro caso, começa com a bossa nova de Tom Jobim para chegar a Villa-Lobos. Já em relação aos nomes da música dos Estados Unidos, vai de Gershwin e Duke Ellington. 'Resgatei os arranjos de algumas das primeiras gravações de Tom Jobim para ficar com sonoridade antiga', diz ele.

Acostumada com o pop, Sandy está encarando o concerto como um grande desafio. 'Estou em uma fase em que tenho mais confiança para experimentar repertórios diferentes', contou a cantora em entrevista ao JT.

Nos últimos meses, Sandy ensaiou sete vezes com Bratke. 'Estou acostumada a tocar com uma banda enorme. Agora é só voz e piano. Tenho que estar muito segura na hora da apresentação. Mas não quero soar como uma cantora lírica. Eu trouxe a minha interpretação para essas canções', complementa a filha do cantor Xororó.

Sandy made in USA

Esta não é a primeira vez que a cantora flerta com um repertório mais sofisticado. No ano passado, ela já se apresentou em uma sofisticada casa noturna de São Paulo cantando clássicos do jazz.

Sandy conta que tem acompanhado as discussões dos fãs na internet sobre a apresentação ao lado de Bratke. 'Vejo que muitos estão empolgados, mesmo não sendo este o estilo de música que eles mais gostam', diz a cantora. Será que esta sofisticação musical vai respingar no repertório de Sandy e Júnior?

'Claro que acaba me influenciando um pouco, mas, por enquanto não vou trazer isso para a nossa música. Não tem muito a ver com o trabalho que fazemos', diz Sandy. Enquanto isso, Júnior estuda a possibilidade de passar uma temporada nos Estados Unidos fazendo um curso de produção musical.

A cantora garante que, apesar dos vôos solos dela e do irmão - que acontecem com cada vez mais freqüência - a dupla continua firme e forte. 'No máximo, nos tiramos umas férias um do outro para cada um fazer suas coisas pessoais, realizar os projetos particulares. Mas a nossa prioridade continua sendo a dupla, não há dúvidas.'

(SERVIÇO) Sandy e Marcelo Bratke - Piano e Voz.
Auditório Ibirapuera. Av. Pedro Álvares Cabral, s/nº, Portão 2, tel.: 5908-4299. Quinta-feira (14), às 20h30. Ingressos: R$ 30 a R$ 160


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Sandy se aventura pelos clássicos em show

Em meio às provas e trabalhos de final de semestre na faculdade, aos shows de sua carreira com o irmão Junior e aos preparativos de uma turnê jazzística que deve começar em março de 2007, Sandy resolveu flertar com os clássicos. Com ingressos pelo mesmo preço do badalado recital de piano solo de Nelson Freire, a cantora apresenta-se nesta quinta-feira em espetáculo de voz e piano, acompanhada pelo pianista Marcelo Bratke.

"Esse projeto, para mim, é muito mais do que um desafio. Só quando fiz o primeiro ensaio é que eu tive idéia de onde estava me metendo", conta. "O repertório exige muita concentração, porque é algo que não estava acostumada a fazer. Mas estou adorando."

Bratke montou um repertório que espelha três compositores brasileiros e três norte-americanos. A primeira parte traz Tom Jobim, Claudio Santoro e Villa-Lobos; a segunda, George Gershwin, Cole Porter e Duke Ellington.

A idéia surgiu há oito anos, quando ele fez o espetáculo "Da Bossa Nova ao Jazz", com o violonista Yamandú Costa. "Desde então, venho imaginando um espetáculo com uma cantora popular, que fizesse essa mesma trajetória, incluindo a música erudita influenciada pela bossa nova e pelo jazz", conta o pianista.

Se Sandy já cantou Villa-Lobos com orquestra ("Melodia Sentimental", incluída no espetáculo), esta é sua primeira experiência com as canções do compositor erudito amazonense Claudio Santoro (1919-1989), com letra de Vinicius de Moraes, e um ambiente harmônico que anuncia a bossa nova.

"Nunca tinha ouvido falar nele, e estou achando demais, por causa da riqueza harmônica e melódica", diz a cantora. Tanto nas canções de Jobim ("Luiza", em versão piano solo, mais "Inútil Paisagem", "Fotografia" e "Retrato em Preto e Branco") quanto nas de Gershwin ("Três Prelúdios" para piano solo, além de "The Man I Love", "S Wonderful" e "Summertime"), Bratke estudou as gravações originais de ambos os compositores, para emular seu estilo pianístico.

Em Sandy, ele vê potencial para recriar, vocalmente, o estilo desses autores. "A voz dela é perfeita para isso, porque soa meio retrô, e pode tanto improvisar na parte jazzística, quanto evocar os musicais dos anos 30.

Sem deixar de ter personalidade própria, Sandy aparece como um camaleão no meio destes compositores
", afirma.