A estreia nacional aconteceu no sábado (19), em Curitiba, como parte do Circuito Cultural Banco do Brasil. Além de Sandy cantando Michael, o projeto traz o repertório de Chico Buarque visitado por Maria Bethânia --que tem apresentação paulistana na terça (22)-- e as canções de Roberto e Erasmo Carlos recriadas por Lulu Santos --repetido por aqui na quarta (23). A direção é sempre de Monique Gardenberg.
E --quem diria?-- Sandy é mesmo a maior surpresa do pacote. Ela consegue escapar de todos clichês que envolvem a memória de Michael.
Os arranjos instrumentais, criados por ela com sua banda e o marido Lucas Lima, transformam delicadamente as canções sem descaracterizá-las. Não é que Sandy faça feio nas mais animadas, como "Bad", "Billie Jean", "Thriller" e "Don't Stop Till You Get Enought". Mas é nos números mais lentos que a cantora brilha de fato. Parece que foram escritos para a voz dela.
Exemplos? Calcado em piano, baixo e bateria apenas, "Ben" ganhou ares de cool jazz. "Music and Me" e "I'll Be There" têm sua raizes folk realçadas pelos violões de aço. E até "Earth Song", cafoníssima na interpretação original de Michael, ganha sobriedade e elegância na versão de Sandy.
Ela e Monique são precisas também na escolha dos elementos extramusicais que ajudam a trazer para o palco o universo do artista. Usam o chapéu, o colete vermelho de "Thriller", a luva, os paetês. Mas nada é mera fantasia carnavalesca, ninguém quer imitar Michael Jackson. Os objetos apenas insinuam o universo do cantor.
Em vários momentos do show, Sandy faz um paralelo entre sua história e a de Michael, "a vida dele foi exposta ao mundo desde pequeno, coisa com que me identifico". Talvez seja por esses espelhos, "Man in the Mirror", que ela consiga vê-lo além das caricaturas. E é preciso admitir: ela sabe do que está falando.
Fonte: Folha