5 de jul. de 2005

Jornal da Tarde: Muito mais que uma Sombra

Aos 21 anos, Junior Lima se torna um instrumentista e produtor de competência suficiente para atrair tanto respeito quanto despeito. Quem o vê como baterista da banda Soul Funk percebe que o irmão de Sandy cresceu e apareceu. Sua missão agora é fazer o grande público entender isso.

Por Júlio Maria

Jornal da Tarde - Muito se fala que você tem melhorado como músico. É o que você sente?

Junior - Ouvi uma gravação de um ensaio que fiz com a banda Soul Funk há oito ou nove meses. Eu era outro cara tocando. Isso é muito engraçado.

Isso pode levar para onde?

A um amadurecimento. É isso que busco com essa banda.

Até onde você quer chegar com o novo grupo?

Eu não sei muito o que eu desejo para a Soul Funk. Ao mesmo tempo em que acho legal ficar como está, sempre acabo caindo naquela, me traio pensando 'pô cara, a casa estava cheia, a gente podia estar tocando em um lugar maior'. Mas sempre volto a pensar que isso é que é legal, a falta de compromisso. De grande, já tem o Sandy & Junior, que é minha vida.

Ser a segunda voz de Sandy não ficou pouco para você?

Ficou, e foi por isso que eu cresci. Eu tenho uma paixão muito grande por música. O tempo todo estou ouvindo música, tenho alguma na cabeça. É um vício. Ser só a segunda voz já não era mais a minha. Aí, descobri que tinha facilidade para tocar e me apaixonei por isso. Descobri que podia ter idéias legais e produzir. Ficou pequeno mesmo. Hoje deixou de ser pequeno, porque passei a fazer outras coisas.

Não é um desconforto.

Não, de maneira nenhuma. Muitas vezes, com a Sandy, eu não quero mesmo ser o foco principal. Quero ficar ouvindo, cantando, mas analisando. A Sandy fala muito mais no show do que eu porque entre cada música estou vendo a guitarra, aumentando o volume, pedindo mais grave, essas coisas.

O showbizz não é uma algema?

Se você se permitir, sim. Eu e minha irmã chegamos a um ponto em que queremos fazer o que estamos a fim, não o que nos pedem. Se o que as pessoas pedem bate com o que queremos, beleza. Se não, não fazemos. Nós conseguimos alcançar um ponto da carreira de sucesso, tivemos uma fase de vender mais de dois milhões de CDs. Chega uma hora em que você ganha um moral. Hoje em dia é o que a gente compõe ou o que a gente resolve que entra no disco - que a gravadora não me ouça. Claro que se o cara da gravadora me trouxer uma música que eu acho boa, vou gravar. Mas se não gostar, não vou gravar. Já podemos nos permitir isso. Não me sinto mais preso.

Independência artística?

A independência artística. Espero que sim.

O fã não é outra algema?

Às vezes, me pego querendo usar um acorde complicado em uma música da Sandy & Junior e penso: 'Nego não vai entender nada se eu fizer isso'. Se quisesse muito, teria que sair da Universal e ir para a Trama, que é onde se permite fazer algo mais rebuscado. Mas por isso é legal ter a Soul Funk. Eu quero ter sucesso, só que ao mesmo tempo não me vendo. Não vou rebolar para fazer sucesso. Eu não 'viajo', mas também não me vendo.

Manchete de uma matéria publicada no Diário Popular de 1998: "Os rumores sobre a separação de Sandy & Junior não param de crescer".

Desde lá, né? (risos)

Sempre foi assim?

Sempre. Acho que no primeiro ano de carreira já tinha isso. Dois irmãos cantando, deu certo, dizem logo: 'Ah, não pode dar certo por muito tempo'. Aí, vai fazendo sucesso e dizem: 'Ah, até onde vai isso?'. As pessoas tentam enxergar um lado negativo.

Imagino que isso deve irritá-lo.

Sim, sempre dizem isso.

Então queria irritá-lo um pouco mais.

Ah (risos). Vai fundo.

Você falou em lado negativo. Por que a carreira solo seria negativa para você ou para Sandy?

Seria parar algo que está dando certo. As pessoas enxergam que uma hora não vai mais dar certo. Seria negativo também porque é algo de que gosto muito de fazer. Cresci com isso e é o meu foco principal, é minha vida. Acabar seria tirar o doce da boca da criança.

Falaram muito que você não sobreviveria sem a Sandy...

Eu era muito moleque quando rolava esse tipo de comentário. Sempre fui muito bem resolvido desde criança, tanto que me permitia cantar uma música em que rebolava no palco. E se os caras me chamassem de viadinho, olhava para eles e dava risada. Não estava nem aí, sabia que eu não era e estava tudo certo. Eu também não sabia muito a importância das palavras das pessoas. É lógico que dá um saborzinho de vitória quando você vai lá e faz um projeto que as pessoas falaram que não daria certo, mas não é para isso que faço.



Fonte: Jornal da Tarde