13 de out. de 2020

Pra mim, como artista, seria impossível passar por esse período sem ser afetada de alguma maneira


A nossa profissão é toda baseada na nossa capacidade (ou necessidade) de expressar o que a gente sente em forma de arte. Mas, por algum motivo, quando eu pensava em compor, parecia que eu não conseguia ser completamente sincera ou suficiente.
Quando a gente escreve com um assunto em mente, a gente se limita um pouco, e eu não queria, de maneira alguma, me apoiar em clichês ou correr o risco de soar minimamente oportunista.
Por outro lado, acho que a arte, em suas diversas formas, ajudou a preservar um pouco a sanidade de muita gente durante esse ano, e comigo não foi diferente. Filmes, séries, músicas, livros, artes plásticas… me tocaram de um jeito indescritível e que ajudou a acalmar o coração em diversos momentos. E algumas canções específicas que eu já amava há muito tempo, de repente, se mostraram pra mim com um sentido completamente novo e inesperado. Assim nasceu a necessidade de fazer esse EP.
“Piloto Automático”, da banda Supercombo, que conheci quando fui jurada do programa Superstar, “Lua Cheia”, da banda 5 a Seco da qual sou fã há anos e “Tempo”, que gravei no meu álbum de estreia da carreira solo, redescobri e que, nesse momento, tomou um tamanho muito maior do que tinha quando a compus, 11 anos atrás. Três músicas que viraram uma só, que se confundem uma com a outra, assim como as horas, os dias e os meses desse ano maluco.
Produzi em casa, com a família e com poucos músicos que gravaram à distância suas lindas participações.
Para ilustrar essas canções, chamei um artista que conheci e por cujo trabalho me encantei durante esse período, chamado Thainan Castro, que me presenteou com essa obra tão sensível, delicada e simbólica.
Quando liguei pra meu amigo Douglas Aguillar (que me acompanhou e registrou todo o meu “ano de Sandy e Junior”) pedindo pra ele me ajudar a traduzir essas músicas em imagens, fomos à fazenda onde trabalha um amigo de infância e filmamos não um clipe, mas um sentimento, uma alegoria de todos os estágios de tormenta e calmaria — e tudo entre esses dois extremos — dos últimos meses, comprimidos em dez minutos e trinta e nove segundos.

Esse é o nome desse EP: ‘10:39’.

Chamar de EP até soa estranho; está mais pra um convite pra que as pessoas dividam esses 10:39 comigo, pra gente respirar, pensar, refletir, se permitir sentir e tentar encontrar algum aconchego um no outro. Ainda que — por mais algum tempo — à distância.

Com amor,

Sandy”.