Nostalgia dos anos 1990 permeia toda a cultura popular da atualidade
Talvez fosse mesmo. O terrorismo islâmico ainda não atacava o Ocidente. A globalização era vista como algo positivo. O Brasil vivia uma espécie de euforia, com o fim da hiperinflação e o acesso de milhões de pessoas ao consumo.
Nossa música era quase toda alto astral, com muito axé e muita boquinha da garrafa. O funk carioca pegava relativamente leve. O sertanejo, ainda próximo das raízes caipiras, já tinha seus príncipes herdeiros: Sandy e Junior.
Eles eram uma unanimidade nacional. Ricos e pobres, sulistas e nordestinos, esquerdistas ou centristas (na época, ninguém se assumia de direita): todo mundo gostava dos filhos de Noely e Xororó.
Não dava para não gostar. As músicas podiam ser ingênuas, mas não eram bobinhas. Com raras exceções, não se encaixavam em nenhum estilo mais específico do que o pop genérico. E a imagem dos irmãos era a mais sadia possível.
Sandy e Junior finalmente se separaram em 2007, depois de 18 anos juntos –uma eternidade para o mercado infanto-juvenil. Ela se casou, teve filho e seguiu carreira solo, sem jamais repetir o antigo sucesso. Ele se tornou raro na mídia, trabalhando nos bastidores e optando por uma vida mais discreta.
No início deste ano, anunciaram a primeira turnê em mais de uma década. Esta semana, os ingressos para os shows começaram a ser vendidos online, e quebraram a internet. Já circulam nas redes sociais as histórias assustadoras de gente que está em 673.889º lugar na fila virtual.
O fato é que Sandy e Junior reaparecem na hora certa. O vazio deixado por eles jamais foi preenchido: a música brasileira se encheu de bumbuns e sofrências, sem ninguém cantando especificamente para os menores de idade. O país como um todo está dividido e machucado, e precisando de um refresco. Muito açucarado, se possível.
Então, que voltem os anos 1990, ou uma versão idealizada do que foi aquele período. Ela já aparece na novela “Verão 90”, no filme “Capitã Marvel”, na ótima série “Fresh Off the Boat” (ainda indisponível por meios legais no Brasil).
Essa onda de nostalgia alcança seu pico com a volta triunfal de Sandy e Junior. Seria demais pedir para eles prepararem alguma coisa inédita? Uma música nova, que seja? Nós bem que estamos necessitados.
Folha de S. Paulo