Não há nada que se possa dizer contra a tese de que a morte de Michael Jackson fora um suicídio; diga-se: absolutamente consciente! Esta tese, pouco comum, dada a natureza da veneração por ele, representa muito mais do que uma crença, mas uma interpretação. Por isso, lembro-me, humildemente, enquanto escrevo este texto, do livro Homens em Tempos Sombrios, de Hannah Arendt, que li admirando os ensaios acerca daqueles homens incríveis cuja vida estavam escritas na História muito mais enquanto fenômeno, poesia, do que objeto irrefutável. Mas, voltando, quando MJ morreu, eu imediatamente culpei, como ainda culpo, a sua vida, e, certeza, como ainda tenho, de que ele havia se matado assim como todos os grandes artistas que, hoje, indiscutivelmente, o fizeram. Só que, ao contrário do suicídio de tipo definitivo, ele havia praticado um outro, o gradual; pior, mas não inédito (muitos outros levaram uma vida tendenciosamente suicida!). A questão, em si, não é a natureza da morte, mas a natureza da vida. E por que pus esse título absurdo. Bem, se me leem até aqui, posso explicar. Há cerca de semanas, assisti à entrevista de Sandy no programa da GNT Marília Gabriela Entrevista, e aquilo me despertou. Ali, aparece uma artista absolutamente infantilizada (difere de infantil), constrangida, incapaz de produzir uma ideia sobre si que não seja oriunda de uma vaga abstração. Ainda que Sandy afirmasse que mudou de fase, via-se uma mulher presa aos cuidados da mãe-empresária, do irmão-produtor, do marido-produtor, de um pai que lhe causa desconforto; não que ele seja mau (quem acreditaria nisso?), mas certamente a relação envolve uma falta de identificação. Quem assistiu à entrevista de Michael Jackson à Oprah Winfrey sabe que a semelhança é inegável. Ora, e não digo apenas pela entrevista de Sandy, da qual podemos tirar um sem-número de pequenos tiques infantis com a voz, o olhar sonhador, até a necessidade de expressar-se através da literatura, propriamente dita. Eu não falo apenas a partir de uma análise mais cuidadosa de sua relação com o marido (que importa?) ou da onipresença da mãe 24h por dia, com uma máquina fotográfica a registrar os momentos de sua criança de 28 anos (aí, importa!). Eu falo, e aqui o argumento é soberano, do sorriso. Quando MJ morreu, todos os familiares e amigos que o haviam sugado em sua genialidade apareceram no funeral para aproveitar o último resquício de sua imagem – morto. Acredito que a única ali realmente triste e em lágrimas verdadeiras era a atriz Brooke Shields, amiga íntima de Michael. (Creio que nunca ninguém comentou, e nunca ninguém irá comentar, que ela é formada em Literatura Francesa por Princeton, e que sua tese de final de curso foi The Initiation: From Innocence to Experience: The Pre-Adolescent/Adolescent Journey in the Films of Louis Malle, “Pretty Baby” and “Lacombe Lucien”) – No funeral, ela afirmou que a canção preferida de Michael Jackson era Smile, do filme Tempos Modernos, de Charles Chaplin. Quem já ouviu esta canção sabe que ela é tristíssima, apesar do título e da letra. A atriz revelou a informação ao lembrar que tanto ela como Michael tiveram que amadurecer muito cedo; em decorrência do trabalho de ambos, evidente. Guardei o fato. Havia esquecido que um dia relacionei a Sandy com MJ e que, se eu dissesse, ninguém me levaria a sério. Eis que, hoje, ao assistir à reprise do programa Altas Horas deste sábado, deparo-me com Sandy entrando para cantar com uma orquestra convidada. Sua mãe a tiracolo, com uma máquina fotográfica. O mesmo ar triste e infantilizado. Ela pega o microfone e… Bom, vejam vocês mesmos…
PS: Eu NÃO desejo que a Sandy morra; muito pelo contrário, eu quero mais é que ela continue cantando porque, entre ela e as outras da mesma geração, pra mim ela ainda é a melhor.
Fonte: Texto extraído do Blog Guilherme Carvalho