7 de mai. de 2010

Manuscrito" de linhas certas e... “Manuscrito” de linhas certas e tortas


Ao ouvir “Manuscrito”, temos a certeza que o tal temor de Sandy sobre o disco não acontecer, mercadologicamente falando, é pura balela. A começar pela primeira canção do disco e primeiro single, “Pés Cansados”, feito à medida para embalar corações de rádio FM. Só o arranjo mais simples, e por isso mais elegante, a distância de qualquer outra balada que ela cantava ao lado do irmão. Aqui, a poética continua a mesa, um tanto adolescente. Mesmo que a gente não acredite que Sandy tenha pés cansados de qualquer coisa - talvez de massagem.

Assinando todas as faixas do álbum, Sandy é bastante oscilante em relação à maturidade de sua composição. Principalmente quando colocadas em contraste com as melodias refinadas que seu novo trabalho, de fato, possui. É confuso ter, num mesmo disco, “Quem Eu Sou”, uma balada acelerada e boba sobre uma garota que, depois de passar muito tempo perdida, está descobrindo quem realmente é, e “Dias Iguais”, dueto de Sandy com a pianista inglesa Nerina Pallot, de longe a melhor experiência autoral da cantora. Tanto em relação à composição quanto à construção melódica, com um belo piano que, na metade da música, duela com uma orquestra.

Apesar de inconstante, “Manuscrito” possui uma ideologia capaz de sustentar sua consistência enquanto álbum. É um início contundente para uma cantora tão popular que quer começar a traçar estratégias para fugir do esquema chapado de produção de música pop. “Duras Pedras” e “Dedilhada” são canções boas que representam bem essa transição, e, com elas, Sandy tem potencial para começar a redesenhar sua carreira. Até o desenho final, porém, exigir dela um trabalho conceitual e primoroso é jogá-la aos leões antes do tempo.

Fonte: Folha de Pernambuco