1 de mai. de 2010

[Gazeta de Piracicaba] Sandy, por ela mesma



Melancólica e introspectiva Com visual repaginado, a cantora abraça o pop em 'Manuscrito', seu primeiro álbum de próprio punho

Aquela Sandy de porcelana, dos tempos da canção A Lenda, parece ter se apagado, feito borracha sobre o lápis. Ainda mantém traços de não me toques, mas mínimos, que não lhe barram de tocar em tabus nunca dantes navegados (ou comentados por ela tão abertamente) como o uso da camisinha. Ao contrário da menina-pétala, que se viu obrigada a gravar o hit Power Rangers por imposição da gravadora certa vez, a nova Sandy de cabelos curtos e negros busca autonomia para produzir seu próprio som. Pop, é claro. Manuscrito, (Universal Music) lançado oficialmente anteontem em coletiva em São Paulo, é a sua primeira escrita solo.

A coletiva aconteceu num espaço requintado, em Moema. Antes da cantora encarar sua primeira coletiva a sós, sem o irmão Junior, exibiu-se um documentário sobre a sua nova fase. Dirigida por Fernand Grostein Andrade (o mesmo de Coração Vagabundo, em 2008, sobre Caetano Veloso), a produção se transformará em DVD, que acompanhará o álbum. Não se trata apenas de um making of da produção, mas também de fragmentos da vida cotidiana de Sandy, como um jantar no restaurante, ou de pensamentos sobre música e temas da atualidade. Alguns, caem no puro alegorismo (algo para soar: a Sandy cresceu), como o comentário sobre o uso do preservativo, uma questão sobre religião e o ato de limpar o cocô de seu animal de estimação em frente às câmeras.

A meiguice da cantora continua a mesma. Sentou-se corretamente e respondeu com português polido de quem cursa a faculdade de letras às questões dos repórteres. Apenas num instante, cometeu um pequeno deslize ao dizer "Sair para fora", mas quando percebido o pleonasmo, a expressão foi acompanhada por um "me desculpe". Filhos biológicos não estão nos planos atuais de Sandy, apenas os musicais. Manuscrito, com 13 faixas ("Doze e meia, pois a última é bem curta", brinca a cantora), é o primogênito. Está há dois anos sendo concebido. "Não é autobiográfico, mas é muito meu. Músicas que falam muito de mim. Depois de vinte anos de carreira, merecia fazer um disco para me satisfazer", define Sandy, aos 27 anos.

Manuscrito foi escrito num quartinho escuro. "Todos nós temos um dentro de nós", acredita. Apresenta o lado melancólico e introspectivo da cantora. Faz-se bem intimista e acústico ao abusar das cordas e do piano, quase sempre desde a introdução das canções. "Não quis nada gritado. Cansei de gritar". Soma-se a isso a paixão pelo pop britânico, que tanto a influenciou durante o processo. Cita algumas referências: Coldplay, Nerina Pallot (com quem gravou a faixa Dias Iguais) e Jamie Cullum. Todas as letras e arranjos são assinados pela cantora, que conta com parceiros frequentes: o marido, Lucas Lima, e o irmão, Junior Lima. Aliás, a dupla foi incumbida de assinar a produção do álbum.

Sandy descarta a hipótese de escolher as músicas preferidas. Responde a questão, ao mudar o teor da pergunta: as que mais a emocionam. Abre com Ela/Ele ("é uma valsinha de arranjo muito leve, que demorei muito para finalizá-la. Exigi muito dela. Tem uma letra poética e ingênua"), passa por Dias Iguais ("é uma letra que fala da espera. O dia vai passando, vai se transformando e a pessoa continua esperando") e culmina em Esconderijo. "É uma reflexão do fundo de minha alma. Trata-se de um lugar dentro da gente que é nosso. Que não podemos deixar ninguém entrar."

A banda que a acompanhará nos shows está pronta. Por sinal, o mesmo quinteto de músicos presente durante a gravação do disco. No entanto, não há nenhuma previsão para turnê de Manuscrito. "No final do ano, pode ser", arrisca. Por enquanto, Sandy se dedicará exclusivamente ao lançamento do álbum. Além disso, ainda não tem um repertório maior para montar um show. Sobre a hipótese de revistar a discografia de Sandy & Junior por exemplo, a cantora não enxerga problema algum.

Fonte: Gazeta de Piracicaba